“Os grandes incêndios, as dezenas, quando não centenas, de milhares de hectares de área ardida, parecem ter-se tornado no nosso país uma fatalidade, restando apenas gerir o inevitável fenómeno de forma que impactue minimamente nas nossas vidas – protegendo-as; e imputando as responsabilidades criminais a quem de direito, seja por negligência ou por prática criminosa, transferindo, enfim, o ónus da responsabilidade do Estado para os cidadãos e cidadãs tomados individualmente.
Em suma, dissociar o problema sistémico dos incêndios das questões da propriedade (numa floresta em que apenas 2% é de domínio público), do aquecimento global e da falta de coesão territorial corresponde à estratégia governamental de isolar o fenómeno dos incêndios de realidades mais estruturantes e globais – como o aquecimento global – e impedir uma reforma verdadeiramente profunda – mas necessária e urgente – da nossa floresta.
Mas onde o governo nos quer empurrar para uma fatalidade de que não se trata de mudar, mas, tão só, de gerir, devemos nós, cidadãs e cidadãos, exigir responsabilidades coletivas que se traduzam em políticas públicas decisivamente adequadas e adaptadas às exigências das alterações climáticas.
Se o aquecimento global é uma realidade com a qual nós e as gerações que nos procederão temos e teremos com que lidar, não é possível querermos mudar o que quer que seja em nome do nosso bem-estar, e, inclusive, da sobrevivência das espécies que hoje compartilham connosco o planeta, sem querermos enfrentar um modelo económico predatório que vive tão só do curto-médio prazo e produz continuamente o afunilamento das desigualdades.
O futuro do planeta passará inevitavelmente pela nossa capacidade coletiva de reivindicarmos a soberania dos interesses de todas e todos, o interesse da nossa continuidade enquanto espécie entre espécies, contra um modelo económico planetariamente insustentável nas mãos de uns poucos que se servem da incapacidade das elites governativas de privilegiarem o bem-estar do planeta em detrimento da acumulação do capital.”
Comissão Coordenadora Distrital do Bloco de Esquerda de Viseu
(Foto DR)