O PCP, a situação dos Museus em Viseu e o seu encerramento ao domingo

Se qualquer caminho serve para um executivo que não sabe para onde quer ir, a Cultura e os munícipes reclamam e merecem mais do que o atual navegar à vista. Mais do que a inauguração de mesas merendeiras no Parque Aquilino Ribeiro ou manifestações de orgulho na dimensão da rede municipal de museus, urge definir e partilhar o rumo que se pretende seguir para os museus municipais e Cultura no concelho de Viseu.

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  • 11:45 | Quinta-feira, 18 de Maio de 2023
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“No dia 18 de Maio comemora-se o Dia Internacional dos Museus. Há alguns dias, a Câmara Municipal de Viseu apresentou a sua programação para comemorar a efeméride. Infelizmente, perdeu-se a oportunidade de prestar esclarecimentos que são devidos e corrigir um erro grave que traduz um desrespeito pelos munícipes e por quem nos visita.

Até novembro de 2022, todos os 8 museus sob alçada do município estavam abertos de 3ª a domingo, encerrando à 2ª feira e em alguns feriados. De resto, seguindo o horário adotado por todos os museus nacionais e que é prática comum na esmagadora maioria dos museus do país e até internacionalmente.

Nessa altura, a Câmara Municipal anunciou que todos os museus municipais passavam a encerrar ao domingo, 2ª feira e feriados. Pela comunicação social ficámos a saber recentemente que, na opinião da vereadora com pelouro da Cultura, os museus municipais não suscitam interesse suficiente para visitas ao domingo a não ser que existam programas específicos ou eventos nesses dias. Viseu passava a ser a única capital de distrito do país sem museus sob alçada municipal abertos aos domingos. Seis meses passados, a Câmara Municipal recua na decisão inicial e anuncia um novo horário e a abertura aos domingos dos museus Almeida Moreira, Keil Amaral e de História da Cidade durante o horário de verão, mantendo encerrados os museus mais visitados aos domingos, nomeadamente a Quinta da Cruz e o Museu do Quartzo.

Deveria ser preocupação da Câmara Municipal aproximar os museus das populações e definir estratégias que os dinamizem. Não é com o encerramento dos museus que tal vai acontecer, sobretudo se tivermos em conta que domingos e feriados são os únicos dias viáveis para aqueles que trabalham durante a semana.


No caso do Museu do Quartzo, é impossível não referir ainda o recente artigo de opinião do Professor Galopim de Carvalho (“Em defesa do Museu do Quartzo”, Público, 15 de Abril de 2023), onde se alerta para a realidade de um museu que perdeu “toda a capacidade de exercer a sua função mais básica”. Uma realidade de abandono e desinteresse que a todos nos entristece e deve preocupar, mas que dificilmente poderá ser considerada surpreendente tendo em conta o desprezo da autarquia pela Cultura e pelos Museus.

No plano nacional, os museus vivem um contexto muito difícil resultante de décadas de políticas que votaram a Cultura à incúria, abandono, subfinanciamento e à gravíssima falta de trabalhadores. Por todo o país encontramos exemplos de precariedade e falta de meios técnicos e humanos, de instituições sem condições para acondicionar devidamente as colecções ou edifícios que carecem de obras urgentes. Não obstante, não são as dificuldades criadas pela falta de pessoal e os constrangimentos orçamentais que justificam o caminho sinuoso local. A Câmara Municipal tem apoiado exposições privadas, abertas ao público todos os dias da semana até às 19h, incluindo segundas-feiras, domingos e feriados, nomeadamente com vigilância por funcionários da autarquia. Exige-se para os museus municipais o mesmo investimento e consideração.

Se qualquer caminho serve para um executivo que não sabe para onde quer ir, a Cultura e os munícipes reclamam e merecem mais do que o atual navegar à vista. Mais do que a inauguração de mesas merendeiras no Parque Aquilino Ribeiro ou manifestações de orgulho na dimensão da rede municipal de museus, urge definir e partilhar o rumo que se pretende seguir para os museus municipais e Cultura no concelho de Viseu.

A Comissão Concelhia de Viseu do PCP defende um rumo que sirva a democratização e desenvolvimento cultural, causa comum de todos os que desejam um Portugal democrático, desenvolvido, livre e soberano, e respeite os princípios e valores inscritos na Constituição da República Portuguesa. Um rumo que se faz com reforço do financiamento e contratação de pessoal, nomeadamente de técnicos especializados, e que reconheça que todos têm direito à fruição e criação cultural (Artigo 78.º da CRP), assim como é dever do Estado promover a democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural (Artigo 73.º da CRP). Importa sempre, hoje ainda mais, relembrar e reafirmar as ideias e as palavras de Bento de Jesus Caraça, o seu entendimento da Cultura como “factor de emancipação humana” e a “aquisição de Cultura como factor de conquista da liberdade”.

 

 

Viseu, 17 de Maio de 2023

A Comissão Concelhia de Viseu do PCP

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