“Aqua Femina: O Fluxo da Vida Rural Feminina” é o mote de uma exposição promovida pela Binaural Nodar, que alia etnografia e arte contemporânea e coloca a mulher do mundo rural, especialmente do concelho de Vouzela, em lugar de destaque.
“Pretendeu-se criar uma experiência em que os visitantes pudessem relacionar-se com a cosmovisão do que era ser mulher no contexto rural, refletindo a diversidade do que constitui esta matriz e acompanhando a vida desde o nascimento, batismo, casamento e a vida de trabalho. No fundo, do que é ser mulher”.
Neste trabalho, nota o responsável, o elemento água, que tem acompanhado a atividade desenvolvida pela Binaural desde o ano passado, volta a estar em relevo, mas com outro sentido. “Há quase uma associação que, simbolicamente, pode ser estabelecida entre água e mulher: água como passagem do tempo, da vida que corre; água do batismo, na vida agrícola, na rega dos campos, nos moinhos, no líquido amniótico”, explica.
Luís Costa mostrou ainda a sua satisfação pela presença de Margarida Balseiro Lopes. A governante, em jeito de homenagem, fez questão de evocar diversas mulheres do mundo rural que marcaram o seu percurso, que tem raízes em Lafões.
A mostra está patente, até 7 de novembro, no espaço Lafões Cult Lab, em Vouzela.
Empoderamento do mundo rural
A exposição constitui dos primeiros eventos públicos realizados no âmbito da Rede Tramontana, que arrancou em julho de 2024 e vai prolongar-se até outubro de 2027 e do qual a Binaural é chefe de fila. O projeto engloba onze parceiros, cujo trabalho é desenvolvido em contextos rurais e de montanha, de sete países, incluindo Portugal, Espanha, Itália, França, Roménia, Albânia e Polónia.
Para o coordenador, “Aqua Femina: O Fluxo da Vida Rural Feminina” pode ser “um bom exemplo do que é possível fazer nesta ligação entre etnografia e arte contemporânea”, e, ao mesmo tempo, “ir para além dos contextos associados aos museus etnográficos, com perfil mais tradicionalista”, abrindo as portas, por exemplo, ao meio audiovisual.
Partindo do exemplo do território vouzelense, onde o trabalho desenvolvido pela Binaural deu origem ao Arquivo Digital da Memória do Concelho de Vouzela, lançado este ano, Luís Costa mostrou-se convicto da oportunidade de mostrar que a realidade do “mundo rural tem pontos de contacto com os mundos rurais de outros países”.
Outra das mais-valias será a criação de uma estrutura de trabalho. “Os onze parceiros têm as suas próprias redes locais. Parece-me interessante se conseguirmos evoluir até um ponto em que os nossos parceiros locais se sintam parte da rede e até, inclusive, possam estar em contato com os seus equivalentes dos outros países”, antecipa o responsável.
Essa oportunidade poderá já surgir no encontro internacional que, em breve, Vouzela irá acolher e que, pela experiência de Luís Costa, poderá “ser uma forma de empoderar as dinâmicas locais de cada região” e do mundo rural, “apesar de este sofrer uma certa diminuição da sua expressão e importância na sociedade”.
A água, a transumância e os baldios
Paralelamente, a água continuará a ser um fio condutor no trabalho da associação. Uma dessas vertentes já está no terreno, com uma aula semanal de expressão dramática leccionada pelo coordenador da Binaural na Universidade Sénior de Vouzela. Daqui resultará um documentário que o responsável espera venha a ser apresentado no estrangeiro, mesmo que seja na forma audiovisual.
Também neste âmbito temático, será apresentada, no próximo dia 26, a exposição fotográfica e sonora “Mulheres de Água da Freguesia de Calde”. A inauguração terá lugar às 15h00, no Museu do Linho de Várzea de Calde, e a mostra pode ser visitada até 22 de novembro.
A transumância e os baldios – uma área que começou a ser abordada, já este ano, em Rebordinho – serão outros dos temas em destaque.
A par das exposições e do trabalho de recolha que tem marcado o seu percurso, a Binaural vai continuar a apostar, também, no intercâmbio de experiências através de residências artísticas e na dinamização de projetos educativos.
A Binaural Nodar é uma entidade apoiada pela República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes.