Zuca

A onda verde e amarela é cada vez mais notória na cidade e no concelho de Viseu, à semelhança aliás do que se passa no País.

  • 14:56 | Terça-feira, 23 de Julho de 2019
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A onda verde e amarela é cada vez mais notória na cidade e no concelho de Viseu, à semelhança aliás do que se passa no País.

O último relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo (RIFA) do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), refere que pelo terceiro ano consecutivo, o número de imigrantes aumentou e é o maior valor desde que há registo: são 480.300 pessoas com autorização de residência. Desses 1/5 são brasileiros e o número dispara todos os meses sendo que, no mesmo relatório, se apontam no distrito de Viseu 4330 imigrantes. No concelho de Viseu situam-se metade desses imigrantes, 2031 sendo que em relação à comunidade brasileira o relatório diz serem 365 homens e 506 mulheres (871 no total). A percepção porém que se tem no quotidiano da cidade é que serão muitos mais pois, não há hoje um local, loja, esplanada, restaurante ou supermercado onde não se encontre um imigrante brasileiro a trabalhar, não há um jardim, evento ou rua onde não se ouça o “português com açúcar” e não há conversa onde não entre o brasileiro que comprou a pastelaria, o casal que comprou o apartamento para os filhos, o aposentado que trouxe o filho para estudar no IPV, etc… o brasileiro entrou na rotina da cidade.

Uma passagem pelas redes sociais e percebe-se porque muitos escolhem Viseu. O Google numa busca pelo slogan ainda do tempo de Fernando Ruas “da melhor cidade para viver em Portugal” devolve aos brasileiros do outro lado do atlântico a indicação de Viseu. A isso se juntarmos o efeito família de muitos que por cá se já instalaram ou, a informação de qualidade que youtubers como o “Cabeludo em Portugal” passam sobre o concelho, fica encontrada grande parte da explicação para tantos e tão empreendedores brasileiros a instalarem-se na região.


Nos grupos bem dinamizados de brasileiros nas redes sociais é comum encontrar-se afirmações diárias de brasileiros com visto D7 a fixarem-se em Portugal, aposentados a questionarem se uma empresa de café e comidas típicas do nordeste brasileiro terá sucesso em Viseu ou o jovem empresário a tentar perceber se um investimento turístico de qualidade terá sustentabilidade e retorno financeiro, além dos muitos que perguntam apenas se a cidade tem emprego para oferecer. E, estes “zucas” como já são carinhosamente chamados são de todas as idades e classes sociais, nalguns casos mesmo megainvestidores milionários que vêm sem pensar em voltar.

Dizem-me alguns que “além da importante questão com a segurança ou falta dela, no caso, há um desconforto de certas camadas da população brasileira com a crise que o Brasil vive, não só a económica e política, mas de valores mesmo e muita gente qualificada, dos meios académicos, profissionais liberais e empresários não se revê nesse cenário.” Isso mudou o perfil dos anteriores fluxos migratórios, ainda vêm os que se sujeitam aos subempregos para sobreviverem mas, há muitos mais qualificados e investidores. Só Lisboa tem agora 12 voos diários provenientes do Brasil e segundo os dados do SEF em 2017 os brasileiros responderam por 19% dos investimentos.

E, aqui chegados, acreditando eu conhecer melhor a cidade e a região várias vezes me tenho perguntado o que tem Viseu para lhes oferecer? Como pode a cidade integrá-los e convidar os melhores a investir e a ficarem?

Se trabalho vai aparecendo o facto, pese a propaganda demagógica dos políticos locais, é que Viseu não tem a oferta de emprego qualificado capaz de responder ás expectativas desses brasileiros. Ainda a última estatística do INE mostrava que na média nacional Viseu é dos distritos com os piores salários médios e, para quem vem na esperança de compor a vida, trabalhar apenas para comer e pagar a renda de casa não servirá de incentivo para criar e educar aqui a família. Viseu pela tranquilidade que oferece, pela segurança que aqui encontram, pelos níveis de oferta de uma cidade média do interior pode vir no curto prazo a ser apenas a “barriga de aluguer” dos melhores da comunidade brasileira, isto porque logo que passem os 5 anos obrigatórios por lei e obtida a cidadania portuguesa, o destino de investimento passa a ser a Europa. Viseu, salvo melhor opinião, pouco ou nada tem feito para acolher e aproximar esta realidade dos novos imigrantes brasileiros. Diria até que antes pelo contrário, os que vingam o fazem sozinhos na luta contra o preconceito que ainda existe instalado no conservadorismo da região. Sujeitos à falta de referências, à saudade dos familiares e amigos, às agruras do clima, às dificuldades de emprego, aos burlões que lhe prometem o visto e o paraíso, não tem na região esta comunidade um apoio social, institucional, um ombro que seja para os apoiar, acolher e integrar.

É tempo de a comunidade brasileira se organizar e fazer sentir ao poder político, eleito e oposição, que é urgente olharem com carinho para estes novos viseenses e aproximarem as suas políticas das vontades dos “zucas” por forma a que somem o seu potencial aos dos “tugas”. Caso contrário, quem perde é Viseu e para o brasileiro imigrante “foi mais um bate-volta”!

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Publicado em Opinião