Sempre contra a pobreza

Alfredo Bruto da Costa é uma inspiração no combate por uma sociedade menos desigual, onde a pobreza não tem lugar. O seu pioneirismo, nos estudos dedicados ao conhecimento profundo do fenómeno da pobreza, tem uma marca d’água, a pobreza não é uma fatalidade e resulta do modo como a sociedade se organiza e funciona.

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  • 12:50 | Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2025
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A editora Gradiva deu à estampa um livro que todas as pessoas, que se interessam pelo combate à pobreza e à exclusão social, devem ler: “Homenagem a Alfredo Bruta da Costa: Estudos sobre a pobreza e a exclusão em Portugal”. Uma obra, coordenada por Fernando Diogo, Pedro Perista e Paula Campos, que pretende “homenagear, justamente, o homem multifacetado, o cientista e a voz que na sociedade portuguesa sempre se levantou em defesa dos mais pobres e dos excluídos.”

Alfredo Bruto da Costa é uma inspiração no combate por uma sociedade menos desigual, onde a pobreza não tem lugar. O seu pioneirismo, nos estudos dedicados ao conhecimento profundo do fenómeno da pobreza, tem uma marca d’água, a pobreza não é uma fatalidade e resulta do modo como a sociedade se organiza e funciona. Cai por terra o jargão fatalista: “pobres sempre existiram”, tão útil ao habitual encolher de ombros de quem tem responsabilidades políticas.

Para o professor Bruto da Costa, a pobreza é uma inaceitável indignidade humana que não deve ser apenas mais um dado estatístico. Os números têm a sua força, não os podemos ignorar. 2 milhões de portugueses são pobres. Sem as transferências sociais, quase metade da população encontrar-se-ia em risco de pobreza. A “pobreza é real, tem rosto” e o combate “não exige apenas mudanças institucionais, depende na mesma medida de mudanças no quadro dos valores dominantes nas nossas sociedades.”.


O livro tem 13 artigos valiosos que contribuem para aprofundar o conhecimento sobre a pobreza e a exclusão social em Portugal e o seu combate. Luís Capucha destaca a persistência das desigualdades e o surgimento de novos fenómenos como o neoesclavagismo e recorda: “O maior contingente de pessoas em situação de pobreza, em Portugal, são trabalhadores, quer por conta de outrem quer, ainda com mais intensidade, por conta própria.”.

Em ano de eleições autárquicas, não é um bom sinal observarmos que o espaço mediático é ocupado pelas eleições presidenciais, com horas e horas de comentários sobre candidatos e candidatos a candidatos. Não desprestigiando a Presidência da República, as eleições autárquicas têm um potencial de impacto muito maior na vida concreta das pessoas. Não há estratégia nacional de erradicação da pobreza e da exclusão social vencedora, se não houver o envolvimento dos municípios. A pobreza é um fenómeno global que carece de uma intervenção local. É necessário ter um conhecimento profundo da comunidade para se definirem estratégias de prevenção, combate e erradicação da pobreza que resolvam os problemas concretos das pessoas, caso a caso. De boas intenções está o inferno cheio, as estratégias não passam de meros planos de intenções se não passarem para as ações concretas, no terreno.

“(…) a pobreza nunca é um problema meramente material. A privação é uma situação de carência em relação às necessidades humanas básicas. Necessidades materiais, tal como a alimentação, o vestuário, a casa, etc., necessidades imateriais, tais como a educação, a cultura e o sentimento de bem-estar, o exercício de cidadania, a participação na vida social e política, e outras, de natureza espiritual e religiosa.” Alfredo Bruto da Costa (2022)

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Publicado em Opinião