Conversas conduzidas por Bernardo Mendonça com as mais variadas personagens que contam histórias maiores do que a vida. Ou tão simples como ela pode ser. Este é o “cartão de visita” do podcast do Expresso “A Beleza das Pequenas Coisas”, altamente recomendável.
No mais recente episódio, fiquei a conhecer melhor a atriz Benedita Pereira, Beny para os amigos. Frases fortes – “Não tolero a intolerância. As artes ajudam muito a pensar” e “A mãe das desigualdades é a de género. Ser feminista é ser antirracista, anti-homofobia, anti isso tudo” – servem de gancho para o que podemos escutar. Chamo a sua atenção para as questões relacionadas com a idade, um aspeto que tem “ainda mais impacto nas mulheres do showbiz.” Está nas salas de cinema o filme de terror “A substância”, escrito e dirigido por Coralie Fargeat e que tem como atriz principal Demi Moore que encarna a personagem de uma estrela do fitness que tenta fazer um pacto com a beleza e juventude eternas e, ao fazer 50 anos, decide trocar de corpo com uma jovem, tomando “A substância”. A ditadura da juventude eterna é ainda mais dura com atrizes, apresentadoras, gente dos ecrãs.
Irei ver o filme no próximo fim-de-semana. Tenho alguma curiosidade, mesmo que o argumento não seja original, nem algo de absolutamente disruptivo como nos querem fazer crer. Há vinte e dois anos, o escritor Hanif Kuereishi publicou o livro “O Corpo e Outras Histórias” (Companhia da Letras) que começa assim:
“Ele disse: Escute, você diz que não ouve bem e sente dor nas costas. Seu corpo não vai parar de lembrar você dessa sua existência adoentada. Quer fazer alguma coisa a respeito?”
“Desta minha velha carcaça, já quase morta?”, perguntei.”
“Claro. Mas o quê?”
“Que tal trocar de corpo, ganhar um novo?”
O autor britânico, num contexto em que a clonagem e as técnicas de rejuvenescimento se foram tornando assuntos do quotidiano, procurou surpreender os leitores com a história de um novo Adão – “Um sexagenário escritor e dramaturgo que se vê diante da possibilidade de transplantar a sua mente experiente para um belo corpo de vinte e cinco anos. Os novos atributos físicos, porém, acabarão por metê-lo numa aventura perigosa.”
Este tópico deve merecer especiais cuidados numa sociedade que só vê a beleza na juventude e que parece não estar preparada para gerir o potencial e os riscos inerentes à inteligência artificial.