Fiquei muito surpreendido com as decisões do PPD/PSD a propósito das eleições para a mesa do parlamento que marcam este início da legislatura.
Esperava que pessoas com larga experiência política tivessem sido bem informadas sobre os comportamentos dos partidos extremistas por esse mundo fora e como estes estão a marcar a vida dos países e das instituições.
Viktor Orbán é o mais próximo. Chantageia os restantes Estados da União Europeia (UE) até ao limite, por vezes para além do limite, e vai tendo o que quer, mesmo que a sua governação coloque em causa os tratados.
Donald Trump, através dos seus fiéis que mandam na Câmara dos Representantes, abate até os republicanos que não lhe são leais e impõe bloqueios permanentes à administração Biden. As ajudas à Ucrânia são o seu principal alvo, a progressiva instabilidade entre aliados no âmbito da NATO é o seu recente combate num mundo onde esta instituição merecia atenção e reforço político e militar.
Mas o caso mais triste é o de Jair Bolsonaro. Através dos seus aliados, em especial de um grupo de insurretos liderados por Nikolas Ferreira, um jovem deputado federal que conseguiu mais de um milhão de votos no estado de Minas Gerais, o Congresso dos Deputados entrou num processo de degradação como nunca se tinha assistido, a uma profunda desconsideração pelo outro, à edificação de uma história alternativa que assenta num reacionarismo nunca visto e numa mensagem simplista que arranca milhões de apoiantes em todas as redes sociais.
Os gabinetes políticos da direita democrática deveriam ter analisado estes fenómenos para antecipar uma legislatura em que o Chega se assume com uma dimensão parlamentar e uma representação social muito relevantes.
Teria sido de elementar bom senso que os líderes dos dois partidos se tivessem sentado e conversado sobre a mesa da Assembleia e demais órgãos que nascem de votações em sede parlamentar. Mas também teria sido de bom senso que os dirigentes da AD, que se pronunciaram sobre o acordo com o Chega e o negaram, tivessem tido o recato necessário e não se tivessem transformado em idiotas úteis.
Em conclusão, a liderança do PPD/PSD ficou-se na arrogância da indigitação promovida por Marcelo e achou que a escolha da segunda figura do Estado era coisa menor que até podia ser tratada pelo sargento de serviço.
O teatro, que todo o país viu, obrigou o PS a apresentar uma alternativa. Francisco Assis aceitou o encargo, não porque soubesse que haveria condições para ser eleito, mas porque se impunha uma solução que obrigasse a uma clarificação. Os partidos à esquerda associaram-se, como não podia deixar de ser.
Acontece que depois de três votações em que nada mudou, só restava ao PS viabilizar a eleição de Aguiar Branco.
Muitos vão dizer que o acordo diz que o PS antecipa uma legislatura completa e, por isso, quer a presidência da AR na segunda parte do mandato. É um erro essa apreciação. A duração da legislatura, a governação e as suas debilidades ou consequências, não dizem respeito ao PS.
Há, contudo, que voltar a confirmar o que foi dito por todos os dirigentes do PS – não haverá qualquer acordo para a aprovação dos Orçamentos do Estado. Eles são o reflexo de uma política e há um mar imenso que separa as políticas do PPD/PSD das do PS. Não se pense que em setembro, aquando da votação do OE para 2025, haverá uma abstenção violenta por parte do PS como resultado de mais uma guerra no ringue direito do hemiciclo.
Pedro Nuno Santos sabe bem isso e também sabe que o PS só viverá se não se deixar envolver nos interesses de alguns outros órgãos do Estado, dos comentadores maioritariamente de direita e os interesses fáticos. Não pode haver abraços de urso.
Ascenso Simões