Os sinos devem ter tocado a rebate, no último fim de semana, lá para as bandas do Palácio do Rato.
Numa leitura mais fina, verifica-se que o que é mau para o PS não é forçosamente bom para o PSD, que só sobe 1%, o que atesta que, aos olhos dos votantes, os sociais-democratas não estão ainda capazes de capitalizar o descontentamento com o governo, nem serem vistos como real alternativa, sendo as eleições europeias do próximo ano a prova de fogo para Montenegro. Alguma indefinição quanto a alianças eventuais com o “Chega” conduzirão a receios no eleitorado, e a pouca densidade em algum pensamento ajudarão a que assim seja. Obrigado a ganhá-las, ver-se-á até que ponto os portugueses o olharão como putativo primeiro-ministro ou, ao invés, tão só como um líder da oposição, mais um, que não aferventa nem acrescenta, a quem falta carisma, e cuja mensagem não galvaniza.
Quanto ao terceiro lugar, o expectável aconteceu. Fruto de sucessivos erros dos outros partidos, até na casa da democracia, dando-lhe palco e tempo de antena, e cavalgando, com um discurso extremista, o descontentamento popular, o Chega ocupa o terceiro lugar, apesar das diatribes, incoerências e comportamento errático do seu líder.
Fosse ele outro, e não sei se estaríamos tão descansados quanto ao futuro próximo e à normalidade do funcionamento das instituições democráticas. Mas quanto a isso, todos nós temos a nossa quota-parte de responsabilidades, até as vacas sagradas do regime, que dizem impunemente as maiores barbaridades e debitam encarniçadamente o discurso mais insuportável e incabível.
(Fotos DR)