Sou do tempo em que apenas havia dois canais de televisão, a preto e branco, onde nos deliciávamos a ver a Heidi e o Pedro nos seus Alpes e as desgraças do Marco sempre em busca da sua mãezinha.
Sou do tempo de uma Casa na Pradaria, do Sandokan e dos filmes nas tardes de domingo.
Sou do tempo em que apenas os rapazes jogavam à bola e andavam de bicicleta, tornando-se uma tortura para atrevidas como eu e a minha irmã Tila.
Sou do tempo em que se lavava a roupa no rio e se ia à fonte da Tulha buscar água e espreitar os namorados que frequentemente se abeiravam do tanque e atiravam um pouco de água à sua preferida num ritual de namoro único e sedutor.
Sou do tempo do amolador de tesouras e do vendedor de sardinha.
Sou do tempo dos cueiros de pano e das chupetas feitas de açúcar enrolado num pano como se fosse uma tetina.
Sou do tempo em que as máquinas fotográficas tinham rolo e demoravam dias a ser reveladas no fotógrafo e muitas vezes nenhuma se aproveitava. Que desilusão!
Sou do tempo em que íamos à feira duas vezes por ano, no Natal e na Páscoa comprar roupa nova para toda a família e não raras vezes era uma choradeira porque os gostos da mãe não coincidiam com os nossos.
Sou do tempo do rapa, do pião, de saltar à corda e jogar ao ró-ró é às escondidas, havendo brincadeiras para todas as épocas e idades.
Sou do tempo …sou do tempo…em que o tempo parecia que tinha mais tempo…
Ondina Freixo