João Costa é o ministro da Educação. Houve alguns optimistas militantes, sem a mínima conexão à realidade, que auguravam que ele trouxesse uma nova energia ao ministério. Acabou a ser mais do mesmo e a enfrentar uma das maiores contestações dos professores de que há memória, muito por força da não recuperação do tempo de serviço retido, e que já vem do tempo da “troika”.
Iguais a ele, só a impagável Milú e o inimitável Crato, que não era Prior, nos prejuízos causados ao sector da Educação. 6 anos, 6 meses e 23 dias foi o mote para muitas manifestações e greves às actividades lectivas, momentos de avaliação e exames.
Formas de luta que esbarraram sempre com a intransigência do ministro que, dizendo não haver dinheiro para tudo, deitou para a valeta, borda fora as reivindicações dos professores. Apregoava que havia que pensar no hoje e no amanhã, escudando-se no impacto orçamental da medida.
O secretário de estado, tolerante, ouvidor, pacificador, meigo, que se passeava, com ar de sonso, em congressos, colóquios em encontros de educação, falecera, e, em seu lugar, aparecia um ministro arrogante, irredutível defensor das contas certas, como um fim em si mesmas, e não ao serviço de políticas.
Como professor aposentado, doeu-me ouvir, e ler, este elogio, mais uma “boutade” do que um louvor sério. E nisto andou o país mais do que meses. Com ouvidos moucos, à mesa do orçamento. Inocentemente, supunha-se que eram as contas públicas que o atavam de pés e mãos. Com as eleições para secretário-geral do PS, manifestou o seu apoio a Pedro Nuno Santos (PNS), na corrida deste à liderança. E, de permeio, a 3 meses das eleições, veio à boca de cena para declarar que, afinal, numa próxima legislatura, sob os auspícios de PNS, é possível reverter a situação e repor o tempo de serviço, de uma forma gradual. 300 milhões de euros/ano, segundo contas de agora. O que mudou? O chefe, o tutor, o páter-familias. António Costa era contra a solução, PNS quer resolver o problema.
É o despudor, a falta de vergonha, a incoerência, a falta de convicções, o vale tudo. João Costa, afinal, por esta amostra, não tem ideias próprias, é a voz do “dono”, o ventríloquo do chefinho. E o lugar de deputado está sempre garantido. Sempre é uma vidinha certa. Com desfaçatez e impudência desmedidas e mal calibradas, passou a aceitar o que o candidato que apoia defende. Não lhe faltou no olhar um cinismo sibilino.
É a cambalhota perfeita, o pino firme e hirto de um aprendiz de ilusionista.