“Está de ananases! Derrete os untos!”, esta frase é da autoria do grande romancista Eça de Queiroz e podemos encontrá-la no livro A correspondência de Fradique Mendes, e assenta na perfeição nestes dias de um verão verdadeiramente abrasador.
Por estes dias de canícula, para quem gosta de estar ao ar livre, sabe bem procurar um lugar à beira-mar ou à beira-rio, ou a sombra frondosa das árvores de um parque para nos refrescarmos.
Neste calor de ananases sabia bem um mergulho na praia fluvial do Almargem e utilizo o verbo saber no pretérito imperfeito, porque da praia fluvial, que marcou os anos oitenta e noventa do século XX, restam as memórias de quem, como eu, ali passou agradáveis tardes a mergulhar ou a andar de gaivota nas águas refrescantes do rio Vouga.
O final da primeira década do século XXI, trouxe à luz um projeto gigantesco e inovador de um Parque Aquático sensacional, o primeiro da Península Ibérica, a funcionar o ano inteiro, com piscinas de ondas, spa, hamman, escorregas, tobbogans, bar, restaurante e até uma mini hídrica que iria produzir energia para alimentar o complexo turístico e as suas inúmeras valências.
Era o progresso, em toda a sua pujança inovadora, a chegar ao Almargem, à freguesia de Calde. Toda esta maravilha brotou da cabeça de um empresário português, que durante longos anos esteve emigrado na Suíça e com experiência na área. É claro que a União Europeia, através do QREN deu uma forte ajuda. O custo inicial para a empreitada era de 26 milhões, cabendo ao empresário assegurar 30% do financiamento.
Tudo parecia bem encaminhado, a velhinha e modesta praia fluvial do Almargem tinha os dias contados, ou melhor continuaria a existir, mas ao lado de um edifício gigantesco em betão.
A Câmara de Viseu estava toda empolgada com a chegada do progresso à freguesia de Calde. Afinal, estava prometida a criação de 120 postos de trabalho, importantes para estancar a emigração dos jovens da freguesia e de outras ali à volta.
De uma construção de interesse nacional, o Parque Aquático do Almargem transformou-se num imbróglio financeiro e político desinteressante e de difícil resolução e nem o ultra capacitado Gabinete do Investidor da Autarquia viseense parece ter arte e engenho para auxiliar o empresário promotor da obra a encontrar um rumo que volte a levar os banhistas até ao Parque Aquático do Almargem.
Por isso, em 2020, teremos de procurar outros concelhos e outros parques como o do Pisão ou a praia fluvial do Trabulo para nos refrescarmos deste calor de ananases!