O Parque Aquático do Almargem: uma obra sem fim à vista

A Câmara de Viseu estava toda empolgada com a chegada do progresso à freguesia de Calde. Afinal, estava prometida a criação de 120 postos de trabalho, importantes para estancar a emigração dos jovens da freguesia e de outras ali à volta.

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  • 19:07 | Sexta-feira, 17 de Julho de 2020
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Está de ananases! Derrete os untos!”, esta frase é da autoria do grande romancista Eça de Queiroz e podemos encontrá-la no livro  A correspondência de Fradique Mendes, e assenta na perfeição nestes dias de um verão verdadeiramente abrasador.

Por estes dias de canícula, para quem gosta de estar ao ar livre, sabe bem procurar um lugar à beira-mar ou à beira-rio, ou a sombra frondosa das árvores de um parque para nos refrescarmos.


Neste calor de ananases sabia bem um mergulho na praia fluvial do Almargem e utilizo o verbo saber no pretérito imperfeito, porque da praia fluvial, que marcou os anos oitenta e noventa do século XX, restam as memórias de quem, como eu, ali passou agradáveis tardes a mergulhar ou a andar de gaivota nas águas refrescantes do rio Vouga.

O final da primeira década do século XXI, trouxe à luz um projeto gigantesco e inovador de um Parque Aquático sensacional, o primeiro da Península Ibérica, a funcionar o ano inteiro, com piscinas de ondas, spa, hamman, escorregas, tobbogans, bar, restaurante e até uma mini hídrica que iria produzir energia para alimentar o complexo turístico e as suas inúmeras valências.

Era o progresso, em toda a sua pujança inovadora, a chegar ao Almargem, à freguesia de Calde. Toda esta maravilha brotou da cabeça de um empresário português, que durante longos anos esteve emigrado na Suíça e com experiência na área. É claro que a União Europeia, através do QREN deu uma forte ajuda. O custo inicial para a empreitada era de 26 milhões, cabendo ao empresário assegurar 30% do financiamento.

Tudo parecia bem encaminhado, a velhinha e modesta praia fluvial do Almargem tinha os dias contados, ou melhor continuaria a existir, mas ao lado de um edifício gigantesco em betão.

A Câmara de Viseu estava toda empolgada com a chegada do progresso à freguesia de Calde. Afinal, estava prometida a criação de 120 postos de trabalho, importantes para estancar a emigração dos jovens da freguesia e de outras ali à volta.

Importa relembrar que este projeto do Parque Aquático do Almargem foi financiado ao abrigo do Investe Qren, criada pelo atual Presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, quando era Secretário de Estado da Economia, e foi considerado um projeto PIN (Projeto de Interesse Nacional). Dada a sua relevância, mereceu toda a atenção do Gabinete do Investidor da autarquia viseense, entretanto presidida também por Almeida Henriques.
Para obter o financiamento europeu, a obra tinha de possuir todas as licenças necessárias, desde as de licenciamento de obra até às ambientais, e o projeto devia ter ficado concluído em Setembro de 2015.
Eu nunca gostei do projeto, pelas dimensões gigantescas e por causar um impacto negativo na paisagem natural, no entanto, gosto muito menos de como as coisas estão agora, fruto de uma obra inacabada, que não cria emprego  nem pode ser usufruída, podendo dar origem a eventuais furtos e atos de vandalismo.

De uma construção de interesse nacional, o Parque Aquático do Almargem transformou-se num imbróglio financeiro e político desinteressante e de difícil resolução e nem o ultra capacitado Gabinete do Investidor da Autarquia viseense parece ter arte e engenho para auxiliar o empresário promotor da obra a encontrar um rumo que volte a levar os banhistas até ao Parque Aquático do Almargem.

Por isso, em 2020, teremos de procurar outros concelhos e outros parques como o do Pisão ou a praia fluvial do Trabulo para nos refrescarmos deste calor de ananases!

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Publicado em Opinião