O Laranjal

    Trump ganhou e rebentaram as redes sociais indignadas. Passaram dois dias e a indignação, combustível dos gostos e comentários, volta a ser comandada pelos Pedros Guerras desta vida. Como no caso da criança refugiada que deu à costa, morta, numa praia síria, os mesmos que se indignam com a morte rapidamente se transfiguram […]

  • 21:26 | Quinta-feira, 10 de Novembro de 2016
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Trump ganhou e rebentaram as redes sociais indignadas. Passaram dois dias e a indignação, combustível dos gostos e comentários, volta a ser comandada pelos Pedros Guerras desta vida. Como no caso da criança refugiada que deu à costa, morta, numa praia síria, os mesmos que se indignam com a morte rapidamente se transfiguram e se aproximam daquilo que veementemente criticavam. Refugiados sim, mas não no meu “quintal”. Em Portugal, a telenovela do Pedro Dias, em estreia na RTP3, acelerou o processo. Tudo normal no país que só ao fim de cinco eleições é que descobriu que Cavaco era um tipo indecente e muito mal rodeado.


O “outsider”, o maníaco com discurso protofascista e instigador do ódio lá ganhou as eleições. Capitalizou do afastamento cada vez maior dos eleitos que não representam os seus eleitores. Ganhou a quem não tinha como fugir ao epíteto de “insider”. Ao menos o politicamente correcto parece ter os dias contados. Pode ser que a hipocrisia diminua.

Há quem diga que esta vitória até se deve, em parte, a essas mesmas redes sociais e ao famoso algoritmo do Facebook que exclui do nosso “feed” coisas de que não “gostamos” privando-nos de uma perspectiva mais alargada do mundo, com contraditórios, em detrimento de “histórias” potencialmente mais agradáveis, baseadas no nosso histórico, correspondam elas ou não a alguma verdade.

Hillary Clinton (47,7%) teve mais votos que Donald Trump (47,5%), quase 300 mil votos, e eu ainda não vi nenhum dos inúmeros comentadores e políticos que ficaram indignadíssimos com o governo constitucional de António Costa, que fizeram até acusações de golpe de Estado e antidemocracia, a opinar sobre esta situação semelhante. Seria igualmente ridículo de ouvir mas ao menos seria coerente. Devo estar distraído ou é algum efeito secundário. Só se indignam quando não é com “laranjas”. Curiosamente São Bento chumbou (por quatro vezes) um governo que não tinha o número suficiente de “superdelegados” (podemos chamar-lhe assim em vez de deputados?), pese embora tenha tido mais votos, há exactamente um ano atrás.

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Publicado em Opinião