O globetrotter

Gandra d'Almeida salientou-se pelos piores motivos. Ávido por dinheiro, entreteve-se em acumular, desdobrando-se em trabalhos, honrando Hipócrates. E sempre no silêncio dos cautos e com a bondade dos pios, acumulou funções de director da delegação regional norte do INEM com as de médico tarefeiro, nas urgências de Faro e Portimão, tripulando viaturas do INEM, no hospital de Abrantes, e auferindo 200 mil euros de extras.

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  • 18:38 | Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025
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Houve tempos em que o Ministério da Educação era um cemitério de ministros. A reivindicação dos sindicatos e a pressão de uma classe profissional, intelectualmente muito exigente, faziam da 5 de Outubro um necrotério, onde os excelentíssimos defuntos aguardavam a autópsia política, depois de terem galgado o escadório já com a sentença lida. Parece que os maus ventos se mudaram para a João Crisóstomo, triturando ministros que não resistem às grandes opções dos governos e da União Europeia.

O Ministério da Saúde é ingerível, porque ingerível é o Serviço Nacional de Saúde. O aumento da esperança média de vida e da consequente despesa com a assistência médica e medicamentosa, os custos com os novos meios de diagnóstico, associados às mais modernas tecnologias, trazem valores acrescidos, números volumosos, a um orçamento, que é um monstro imparável. O crescimento da população inactiva combinado com a emigração de muitos portugueses contribuem, à sua escala, para défices, que nenhum mago das finanças é capaz de controlar, a não ser que opte por cortes sucessivos na despesa e cativações cegas na receita. Virão próximos os tempos em que a realidade vencerá a batalha final contra a ideologia, a forma mais eficaz de as circunstâncias imporem o “tendencialmente gratuito”, que o medo e o calculismo dos políticos renitentes vêm omitindo, com o sacrifício das próximas gerações.

Não é justo, nem razoável sequer, que abastados e pobres tenham a mesma porta escancarada e a custo zero, indistintamente. Para que os que necessitam possam ter acesso gratuito a tudo o que a dignidade e o respeito impõe, é apropriado que, quem pode, suporte os custos, na proporção dos seus rendimentos.


Pensar e exigir o contrário, tratar igual o que é diferente, reclamar do abonado o mesmo que ao indigente, não é só absurdo, é também pecado terreno.

Os ciclos eleitorais são curtos, e os políticos, pensando no imediato, sacrificam os interesses do país, em benefício dos ganhos partidários. Nem um escapa a esta doença, à vertigem do poder.

Para além desta questão, que, de tão constante, se tornou estrutural, vêm as más escolhas. Do INEM à direcção-executiva do SNS, só nos chegam desgraças, pessoas sem jeito para o cargo, destituídas de capacidade de liderança, embrulhadas em escândalos.

Gandra d’Almeida salientou-se pelos piores motivos. Ávido por dinheiro, entreteve-se em acumular, desdobrando-se em trabalhos, honrando Hipócrates. E sempre no silêncio dos cautos e com a bondade dos pios, acumulou funções de director da delegação regional norte do INEM com as de médico tarefeiro, nas urgências de Faro e Portimão, tripulando viaturas do INEM, no hospital de Abrantes, e auferindo 200 mil euros de extras.

Minudências de gente solidária, preocupada com o seu semelhante. Diria que artimanhas de gente manhosa, que, do seu pedestal, julga tudo por distraído e indiferente a abusos e disparates.

Com estas abencerragens, a ministra está por um fio, anda estremunhada, aturdida, e só a pouca ciência dos comentadores e a pressa dos líderes partidários a vão mantendo no poder. Porque um PM que se preze não cede a pressões nem remodela por encomenda.

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Publicado em Opinião