O “engasgamento” da ministra

A actual ministra da Saúde, Ana Paula Martins, no início da sua ministerial carreira ainda não pode ser julgada pelo alcance e competência dos seus actos. Não obstante, para o pouco tempo que leva no cargo, já alcançou um bom “score” de “inconseguimentos”, como diria uma sua correligionária.

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  • 16:43 | Terça-feira, 18 de Junho de 2024
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Não faço a mínima ideia dos atributos exigidos para se ser ministro.

Posso conjecturar que a filiação partidária será importante, pese embora haver ministros “independentes”, ou seja, só simpatizantes.

A seguir, na minha candura, apostaria no mérito e na competência. A História da IIIª República já nos provou haver grandes ministros e ministros sem um mínimo de qualidade ou preparação.


Finalmente, serem sérios. A História também já nos provou havê-los e haver outros que foram uns criminosos, julgados e condenados pelos seus actos enquanto gestores da coisa pública.

A actual ministra da Saúde, Ana Paula Martins, no início da sua ministerial carreira ainda não pode ser julgada pelo alcance e competência dos seus actos. Não obstante, para o pouco tempo que leva no cargo, já alcançou um bom “score” de “inconseguimentos”, como diria uma sua correligionária.

Depois de se ter referido às lideranças fracas, palavras que motivaram a demissão em bloco da administração do CHTV, por alegada “quebra de confiança política”, veio hoje dizer que, acerca destas palavras foi “mal interpretada”.

Talvez a senhora ministra, seja pouco hábil na retórica ou pouco eloquente no discurso. Ao dizer que foi mal interpretada, não faz um “mea culpa” do proferido, mas remete para os destinatários o ónus do não entendimento. Foram milhares aqueles que assim entenderam as suas palavras. Provavelmente, todos terão um défice profundo na língua materna. Mais, todos serão mal-intencionados, interpretando mal a senhora ministra que, na sua talvez inabilidade política, ainda não logrou separar o trigo do jóio, no tocante ao que se diz e ao que se pensa.

Acrescem outras atitudes, também decerto mal interpretadas, como o que se passou com a antiga ministra da Saúde e Provedora da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, com o director executivo do SNS, Fernando Araújo, et al.

Ana Paula Martins, no afã de se explicar, com arrogância reiterou: “Terei de ser suficientemente humilde para perceber que não foi assim interpretado” (..) “temos mesmo de ter atenção a quem escolhemos para liderar as nossas equipas.”

Ora é isso mesmo… uma dose de humildade não lhe assentaria mal; quanto a nós e a milhares de concidadãos da senhora ministra, enquanto observadores atentos, iremos perceber quem vão ser os nomeados para a administração do CHTV e perceber ainda a lógica da “atenção” nos restantes nomeados para servir, sob a sua tutela, o SNS.

O semiólogo Roland Barthes escrevia em “O Rumor da Língua” (edições de 70, 1987):

“A fala é irreversível, é essa a sua fatalidade. O que foi dito não se pode emendar, salvo se for aumentado: corrigir é, aqui, estranhamente acrescentar. (…) A esta singular anulação por acrescentamento chamarei ‘engasgamento’. O engasgamento é uma mensagem duas vezes falhada: por um lado compreende-se mal; mas, por outro, com esforço, apesar de tudo compreende-se.”

 

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Publicado em Opinião