Vencedor da guerra, derrotado nas eleições, Winston Churchill dedicou-se à pintura e à escrita. Na sua opinião, Mussolini e Hitler mantiveram as ilusões militares quase até ao fim, acreditando, quando tudo falhava, nas possibilidades miríficas das bombas voadoras.
No dia em que a revista Stadium noticiou a vitória de João Rebelo na corrida de fundo, Mussolini resolveu desmobilizar as suas poucas tropas. Churchill diz que ele reuniu, em Milão, com as tropas italianas que lhe eram contrárias e, num «último gesto de independência», «retirou-se furioso».
Anoitecia. O que ele fora resumia-se, agora, a trinta veículos com os líderes fascistas sobreviventes, que se encaminharam, sem plano, para o lago Como. Cada um começou a pensar na melhor maneira de se salvar. Mussolini juntou-se a uma pequena coluna de tropas alemãs, cujo chefe, temendo a Resistência italiana, deu ao Duce um sobretudo e um capacete alemães. O disfarce não foi suficiente. A Resistência interceptou a coluna, reconheceu-o, prendeu-o, levou-o e fuzilou-o, juntamente com a amante. Os seus corpos reapareceram em Milão, pendurados pelos pés, numa estação de gasolina onde há pouco tinham sido fuzilados Resistentes italianos. «Enviaram-me uma fotografia da cena final», escreve Churchill. «Fiquei profundamente chocado.»
Laura Fermi, a biógrafa de Mussolini, deu, como é natural, mais pormenores. Incapaz de se opor ao avanço dos Aliados, destituído do poder, obrigado a encarar a derrota, as acções de Mussolini tornaram-se caóticas e ele próprio «divagava como uma folha na tempestade».
No dia 26 deixou Como. Esperava que uma coluna lhe viesse dar protecção. Afinal, ela desfez-se em rendições. A 28, tentou juntar-se às tropas alemãs em retirada. Andaram dezasseis quilómetros, até encontrarem a estrada cortada por árvores e pedras. A partir daqui, só os alemães podiam prosseguir. Foi então que Mussolini se disfarçou. Enfiou um gorro e fingiu que dormia. Mesmo assim, foi apanhado. Chovia e estava frio. Foi levado de carro, com a amante, até uma casa rural, de onde saíram na manhã seguinte. Junto a um muro, leram-lhes a sentença de morte e cumpriram-na.
Soube destas circunstâncias numa tradução publicada em 1963. Laura Fermi escreve: «Hoje Mussolini é um esqueleto no armário, um vergonhoso incidente na história de um povo.» Espero que tenha razão. Laura Fermi é italiana, naturalizada norte-americana, mulher do físico Enrique Fermi. Aproveitaram uma deslocação à Suécia, em 1938, onde Enrico foi receber o Prémio Nobel, para escapar às perseguições fascistas aos judeus. A sua esperança é magnânima e digna.