A minha homenagem a todos os emigrantes
Finais de Julho de um qualquer ano dos finais da década de setenta, a primeira de várias camionetas chegava ao largo da Tulha carregada de tralhas e da nossa gente que mais uma vez regressava para mais um mês de Agosto na aldeia.
Eram mais os que chegavam do que aqueles que aí ocorriam para receber os seus emigrantes. Naquela altura eram em maior número os que estavam fora do que os que, por razões que só cada um entendia, teimavam em ficar.
Como ficávamos boquiabertas com aquelas calças de ganga, ou aquelas sandálias que ainda não tinham chegado a Portugal, muito menos à Nave. Era uma alegria! Os beijos e os abraços sucediam-se e os caramelos espanhóis começavam logo ali a ser distribuídos. Não quero parecer saudosista, mas caramelos como aqueles nunca mais saboreei. Estes tinham o sabor do reencontro!
As tabernas do largo também ajudavam à festa, os homens sequiosos de uma viagem que poderia levar até mais de 48 horas, bebiam vinho e cerveja, manifestando assim, a sua felicidade por mais uma chegada. O mês de Agosto trazia novidades, euforia, bailaricos em largos com os discos do Art Sullivan, do Adamo, do John Holliday, entre outros, que tocavam no gira-discos colocado estrategicamente na janela de uma das casas.
Rapazes e raparigas respondiam ao chamamento da música e rapidamente o baile tomava corpo. Os slows eram dançados em plena rua, como se os pares estivessem recolhidos de todos os olhares que sobre eles caíam. Que importava! Importante mesmo era sentir a música!
O mês de Agosto trazia sedução e atrevimento.
O mês de Agosto trazia longas filas de mulheres na fonte da Tulha para encheram os seus canecos de água, e não raramente o desentendimento entre quem era a última ou não, levava a que os canecos voassem pelos ares e se escaqueirassem no chão feitos em mil, não diria, mas dezenas de pedaços.
O mês de Agosto trazia novos amores e desfazia amores antigos, consolidava outros que eram sacramentados com festa de arromba.
O mês de Agosto trazia noites de luar passadas em escadas, em que não importava o que se dizia mas com quem se partilhava o momento.
O final do mês de Agosto trazia lágrimas de despedida, saudades dos que partiam, receio do não reencontro, nostalgia do que se viveu nesse querido mês de Agosto.
O final do mês de Agosto trazia a esperança que outros meses de Agosto aconteceriam nas nossas vidas! Só assim aguentávamos as saudades …
Ondina Freixo