«Assim chegou Setembro, e com ele o meu natalício, que era a 3», conta Zé Fernandes em A Cidade e as Serras.
Se Zé Fernandes ainda vivesse em 1946, talvez soubesse que, quatro dias depois, Manuel Rodrigues Lapa se encontrava em Anadia e que daqui escreveu a Câmara Reys para lhe dar conta do que pensava sobre um artigo laudatório publicado na revista Seara Nova. Era o fim do Verão. O filólogo gostava da serra e de longas caminhadas. Tomou impaciência aos regressos precipitados a Lisboa quando o estio convidava ao sossego campestre.
«Já sei: todos os anos sou seringado com telegramas, pedindo com urgência a minha ida a Lisboa. Há dois anos foi o caso do Santana, o ano passado o caso do MUD, e este ano… nem sei o que será; mas seja o que for, só me têm em Lisboa antes do fim de Outubro se me garantirem que acabou a Ditadura e que o Salazar e mais sequazes foram deitados ao Tejo. Diga pois o que há, por escrito, e saiba que na próxima segunda-feira parto para o Caramulo, onde demoro 5 dias em calcorreadas pela serra.»