Se tivéssemos que sintetizar a vida de Mário Soares, que hoje nos deixou, duas palavras bastariam: Liberdade e democracia!
Todo o seu trajeto, toda a sua luta, todo o seu vigor, ao longo destas mais de nove décadas de vida, tiveram como substrato estes valores maiores da vida em sociedade, tal qual ele e tantos outros a idealizaram, pagando muitos, nesse combate que travaram, com a própria vida e tantos outros sofrendo perseguições pela polícia política, não poucas vezes, seguidas de prisão em Caxias, em Peniche ou no Tarrafal.
Liberdade e democracia foram, pois, aqueles valores com os quais ele nunca transigiu, pelos quais sempre lutou, até a sua terra, o seu país, os readquirir depois de quase cinco décadas de “Portugal amordaçado”, expressão que havia de ser o mote para um dos seus livros mais marcantes.
Olof Palme, político sueco, seu contemporâneo, defensor dos mesmos ideais, da social-democracia, traiçoeiramente assassinado nos anos 80, dizia que “política é querer” e de facto quando os homens querem, acreditam no que querem e querem (como quiseram) combater denodamente uma ditadura, que empobrecia Portugal e atirava o povo para a pobreza ou para a emigração, eles organizam-se, unem-se, mobilizam e fazem. Foi assim com Mário Soares. Para ele, fazer política, foi sempre querer. Assim foi quando lutou na clandestinidade contra a ditadura, quando protagonizou combates duros, depois do 25 de abril, pela consolidação da democracia indo para a fonte luminosa, quando conduziu o processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, quando foi o primeiro presidente da República civil e também quando juntou a esquerda em defesa da Constituição, há escassos quatro anos.
Mas Mário Soares, neste seu longo trajeto político, não travou só lutas contra a ditadura e contra seus opositores de outros partidos, também as travou com seus camaradas socialistas, sempre com a mesma determinação e o mesmo vigor. Quem não se lembra das divergências com Salgado Zenha a propósito da reeleição de Eanes, que deu origem ao “ex-secretariado”, também apelidado de grupo do sótão, de que Guterres, Constâncio e Sampaio eram rostos? E aquela, com Manuel Alegre, nas presidenciais de 2005? E aqueloutras, no período revolucionário, com Manuel Serra, com Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira?
Tantas e tantas lutas, ou não tivesse sido, afinal, Mário Soares, um inveterado lutador, um permanente activista de uma cidadania plena, um devoto da democracia e da liberdade, um amante do debate político e da diversidade de ideias.
De facto “só é derrotado quem desiste de lutar”. Nunca foi o teu caso, Mário Soares!
Obrigado.