Ler é preciso!

Também realça o problema do preconceito, da intolerância e das leis vigentes, uma vez que a história de um gato que se apaixona por uma andorinha, levanta polémica entre todos os animais do parque, sendo esta relação vista como impossível.

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  • 15:51 | Quarta-feira, 30 de Outubro de 2024
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Ontem comemorou-se o Dia Nacional do Livro. Por princípio não sou muito dada a dias Nacionais! Mas há dias nacionais e dias nacionais!

O Dia Nacional do Livro é um dia especial que deve ser aproveitado para o incentivo à leitura, especialmente dos mais jovens. Temos que valorizar esta data, pois os livros são responsáveis pelo nosso crescimento intelectual, cultural, económico e sobretudo ajudam-nos a sermos cidadãos mais tolerantes, solidários, esclarecidos e interventivos.

Quanto mais se lê mais hipóteses temos de melhorar a nossa vida e a dos outros e mais hipóteses temos de crescer com harmonia e felicidade. Para ilustrar a importância da leitura, escolhi o Gato Malhado e a Andorinha Sinhã que é um dos livros de leitura obrigatória no terceiro ciclo do ensino básico. O livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá é uma história de amor escrita pelo grande Jorge Amado em 1948, como prenda de anos para o seu filho João Jorge no dia em que completava um ano. Anos depois, em 1976, os textos foram encontrados e publicados em livro. A obra é um mundo inesgotável de afectos, de emoções, de encontros e desencontros, que descreve a paixão entre um gato feio e antipático, pelo qual os outros animais do parque não nutrem muita simpatia e como lhe têm receio, não se aproximam dele, e uma andorinha simpática, graciosa e alegre. Este livro, escrito de forma simples mas trabalhada, em que cada frase, cada palavra parece ter sido escolhida de forma tão meticulosa e cuidada, que só podia ser aquela e não outra. Também realça o problema do preconceito, da intolerância e das leis vigentes, uma vez que a história de um gato que se apaixona por uma andorinha, levanta polémica entre todos os animais do parque, sendo esta relação vista como impossível.


Jorge Amado, conta uma história de amor de uma forma tão bela e sublime, carregada de emoções, encontros e desencontros, partilhas, cumplicidades, sofrimento e dor, que não deixa ninguém indiferente. Este livro é uma lição de vida! É por isso que eu o escolho como um dos livros mais belos que já li. Li, reli e aconselho.

Para aguçar o apetite dos leitores, deixo duas das muitas belas passagens “O Gato Malhado era a sombra na vida clara e tranquila da Andorinha Sinhá. Por vezes estava cantando uma das lindas canções que aprendera com o Rouxinol, e, de súbito, parava porque via (às vezes adivinhava) o grande corpo do Gato que passava em caminho do seu canto predileto. Ia então pelo ares, seguindo-o devagar, e, em certa tarde, divertiu-se muito a atirar-lhe gravetos secos sobre o dorso. O Gato dormia, ela estava bem escondida entre as folhas da jaqueira, rindo a cada graveto que acertava nas costas do Gato, levando o preguiçoso a abrir um olho e mirar em torno. Mas logo o cerrava, pensando tratar-se de alguma brincadeira idiota do Vento. De há muito, o Gato Malhado aprendera que não adianta correr atrás do Vento para dar-lhe com a pata. O melhor era deixá-lo cansar-se da brincadeira. Mas naquele dia, como a coisa continuasse, resolveu ir embora. A Andorinha Sinhá retirou-se também, contente com a peça que pregara ao temido Gato Malhado. […]

Devo concluir que o Gato Malhado, de feios olhos pardos, de escura fama de maldade, havia-se apaixonado? Agora que ele e Andorinha dormem, que só a Velha Coruja está acordada, permito-me filosofar um pouco. É um direito universalmente reconhecido aos contadores de histórias e devo usá-lo pelo menos para não fugir à regra geral. Desejo dizer que há gente que não acredita em amor à primeira vista. Outros, ao contrário, além de acreditar afirmam que este é o único amor verdadeiro. Uns e outros têm razão. É que o amor está no coração das criaturas, adormecido, e um dia qualquer ele desperta, com a chegada da primavera ou mesmo no rigor do inverno. Na primavera é mais fácil, mas isso já é outro tema, não cabe aqui.”

Aproveitem a chegada do inverno e os serões à lareira , para iniciarem uma relação com os livros, que pode ser de paixão e cumplicidade para toda a vida!

Leiam pela vossa saúde intelectual! Leiam e verão que não custa nada e dá muito prazer!

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Publicado em Opinião