Lar de Idosos e Idosos em Lar

Vários estudos apontam para que cerca de dois terços dos residentes em lar não têm autonomia. Daí a imensa urgência em acautelar a gestão da crise nos lares de idosos, que inclua, entre outras medidas, a criação de circuitos covid e não covid ou, na impossibilidade, a transferência dos infetados para outros locais.

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  • 11:51 | Domingo, 13 de Setembro de 2020
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Começando pelo fim, os idosos em lar são cidadãos a quem devem ser garantidos todos os direitos de cidadania constitucionalmente previstos.

Os lares de idosos em Portugal foram pensados e idealizados para responder a pessoas com um grau de autonomia que não se encontra na maioria destas estruturas.

Esta realidade determina que os lares são locais onde o covid 19 encontra condições para se propagar e fazer vítimas em larga escala.


A resposta que tem sido dada é fazer dos lares “bolhas” que estão fechados sobre si mesmos e aguardando que “tudo corra bem”.

Mas para que tudo corra bem é preciso fazer por tal, pois estamos perante uma situação que não pode deixar-se ao acaso.

Assim urge que se faça algo mais do que isolar e marginalizar as pessoas que vivem nos lares de idosos.

É um imperativo constitucional (artigo 72 da CRP) e, antes, é um imperativo humano, ético e moral.

A nossa lei fundamental determina que as pessoas idosas têm direito “a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal”.

Não é o que está a acontecer!

A grande fragilidade dos residentes em lares de idosos e a falta de condições de muitas destas estruturas para lidar com a contagiosidade do vírus que afecta sobretudo pessoas de idade avançada e com doenças associadas expõe-os de forma gritante.

Vários estudos apontam para que cerca de dois terços dos residentes em lar não têm autonomia. Daí a imensa urgência em acautelar a gestão da crise nos lares de idosos, que inclua, entre outras medidas, a criação de circuitos covid e não covid ou, na impossibilidade, a transferência dos infetados para outros locais.

Em Portugal há perto de 150 mil idosos residentes em lares, somando os das instituições particulares de solidariedade social, das misericórdias e dos privados.

Com um número de mortes que ronda os 39% do total de vítimas, temos que as mortes nos lares são 26 vezes superiores às verificadas no total da população (tendo em conta os dois universos). 

Impõe–se uma maior proatividade na proteção desta população.

A realização de testes deve ser alargada, testando periodicamente idosos e trabalhadores das ERPI (Estruturas Residenciais de Pessoas Idosas).

Perante um caso positivo a tomada de medidas, que garantam saber se se está perante um surto e que as ou a quarentena se efetiva em condições dignas, é uma exigência sem exceções.

Urge olhar para os lares como um lugar de vida e convívio e não como “salas de espera” ou de detenção.

Os residentes em lares de idosos têm estado numa situação de isolamento severo e de marginalização.

Não esqueço, muito menos ignoro, que a defesa do bem maior que é  o da salvaguarda da vida é o justificante da situação descrita.

O que contesto é que se encare a situação de “quase prisão” dos idosos como normal e inelutável.

Não é nem uma coisa nem outra.

Deverá ser encarada a efetivação de transferências para Unidades de Cuidados Continuados Integrados de utentes cujo grau de dependência assim o aconselhe. Garantem-se assim condições para uma melhor e mais eficaz prestação de cuidados e para aplicação das boas práticas antipandemia.

Deverá agir-se de forma a que os idosos residentes em lares possam ter um nível de restrições não superior aos idosos que residem em outros locais.

É inadmissível a ostracização a quem vive num lar de idosos é votado.

Efetivar medidas que garantam melhores condições é um imperativo.

Para que tudo fique bem é preciso que proprietários dos lares, Segurança Social e Saúde dêem uma ajudinha… ou seja que façam alguma coisinha.

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