HABITAÇÃO

No terceiro trimestre, havia 150.970 famílias em incumprimento com o pagamento do empréstimo da casa ao banco. Segundo o Dinheiro Vivo, em termos homólogos, é possível concluir que a situação de incumprimento agravou-se: no terceiro trimestre do ano passado, havia 146.195 agregados que não tinham conseguido pagar a mensalidade ao banco pelo crédito à habitação […]

  • 17:38 | Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2014
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No terceiro trimestre, havia 150.970 famílias em incumprimento com o pagamento do empréstimo da casa ao banco.

Segundo o Dinheiro Vivo, em termos homólogos, é possível concluir que a situação de incumprimento agravou-se: no terceiro trimestre do ano passado, havia 146.195 agregados que não tinham conseguido pagar a mensalidade ao banco pelo crédito à habitação contratado, face aos 150.970 verificados no mesmo período deste ano.

Esta tendência para o agravamento da situação, carece de uma atenção redobrada, pois ocorre, mesmo quando vigora um nível historicamente baixo dos juros de referência da zona euro.


O direito à habitação é inalienável, um direito básico que permite assegurar uma vida digna a todas as famílias.

A especulação imobiliária, alimentada pelas facilidades no acesso ao crédito, desvirtuou o mercado e muitas pessoas poderão ter dado um passo maior do que a própria perna. Creio que a maior parte das famílias ponderou a sua decisão e foi tomada conscientemente, considerando a sua real situação profissional e familiar à época.

Sucedem-se os exemplos de agregados familiares em que um ou mais dos seus membros fica sem emprego ou vê os seus rendimentos subtraídos, por via do aumento dos impostos e dos reajustamentos das entidades empregadoras. Com a crise vieram os conflitos familiares (os dados da violência doméstica não deixam dúvidas), o aumento dos divórcios e o seu desmembramento com consequências nefastas. Não são raros os casos de quem, apesar do divórcio, coabite por insuficiência financeira, para dar um novo rumo à vida…

A pobreza tem vários rostos, é um fenómeno evolutivo, mutante e que deve ser, como diz o presidente da Cáritas, Eugénio da Fonseca, estigmatizada. É a pobreza que deve ser estigmatizada e não os pobres. Se o Estado apoia, através da habituação social, muitas famílias, faz sentido que crie mecanismos para apoiar aqueles que traçaram como objetivo ter casa própria e trabalhar para o concretizar, tendo sido “esmagados” pelos efeitos imprevisíveis da crise.

Se nada for feito, corremos o risco de ver aumentar o contingente de portugueses que perdem as suas casas e tudo o que investiram, durante anos. Num ano que se avizinha de grande pugna eleitoral, a habitação deve ser um tema a debater seriamente.

Caso não sejam pensadas políticas que respondam a este drama, corremos o risco de ver engrossar as filas de concorrentes à “Casa dos Segredos”, não só pela fama efémera, mas pela garantia de um tecto que garante conforto e mediatismo. Simultaneamente, a “Casa”, que de “Segredos” nada tem, permite um certo “olhar” sobre os hábitos dos pobres. Há quem pague para experimentar a sensação de ser pobre e viver numa favela (turismo de miséria), sai bem mais barato ligar a TV…

Para 2015, formulo, além do desejo de muita saúde para todos, que se ponha cobro aos “despejos”. Quero recordar que expulsar idosos, crianças e doentes das suas casas, lançá-los na incerteza e na miséria, só agrava a situação de quem se tornou um escravo da dívida.

 

 

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Publicado em Opinião