Governar “À la carte”

Por que razão podem entrar, no "Dragão" 14.500 adeptos, a maior parte embriagados, e se proíbe, nas competições nacionais, a entrada a outros tantos, a esmagadora maioria sóbrios?

  • 9:27 | Quarta-feira, 02 de Junho de 2021
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Parece-me que um pedido de desculpas é devido pelo Governo e pela Câmara Municipal do Porto. Os dois à uma. É o mínimo de decência, se ainda derem fé dela, da parte dos poderes públicos. Acontece que, a partir de sábado passado, faleceram quaisquer razões morais para proibir a presença de público em espaços desportivos. Depois de se dar de bandeja essa tão cobiçada prenda aos estrangeiros, alguns deles uns “hooligans” do mais reles possível, persistir em vedar o acesso aos nacionais, a eventos afins, só pode ser uma teima. Um castigo. Uma desconfiança sobre o nosso sentido cívico.

Aqui chegados, quem pode proibir o quê e a quem? Este governo anda sem rumo, à bolina, empurrado pelos ventos da imodéstia, deslumbrado com os holofotes dos palcos europeus. Prova provada do que digo é a bolha em que viriam os ingleses até ao estádio, prometida, candidamente, por D. Mariana, desmentida antes de ser dia seguinte. Uma descoordenação impensável em assunto tão melindroso…e grave!

Por que razão podem entrar, no “Dragão” 14.500 adeptos, a maior parte embriagados, e se proíbe, nas competições nacionais, a entrada a outros tantos, a esmagadora maioria sóbrios?


As autoridades são genicosas com os nossos, contemporizadoras e mansas com os que chegam de fora. Os ingleses são mais ordeiros? Não são. E por que raio veio parar a Portugal uma final entre duas equipas inglesas, que faria todo o sentido fosse disputado nas terras de Sua Majestade? A história do turismo e das receitas como justificativos para estas aberturas extra já cansa. E fica mal. A grande verdade é que Portugal é pau para toda a colher. É o país das sobras, o que os outros rejeitam, a gente abraça.

Confirmam-no os dois GP de Fórmula 1, em 2020 e 2021, e “Final Eight” da “Champions” do ano transacto. Há meia semana, antes e depois do evento, as autoridades foram incapazes de conter a fúria e o álcool dos grunhos, desembarcados, nas vésperas, na Ribeira, emborcando, descamisados, “jolas” e tudo o que lhe vinha às beiças. A organização foi uma bosta. O que importou, e ficou, foi o pilim a cair nas caixas registadoras. O resto não conta, é mais doente, menos doente. O rastreio, a testagem e a vacinação tratam do que vier a seguir.

Tomo como certo que, a esta hora, estará confundido Pinto da Costa. Após os festejos dos sportinguistas, carregou na vergonha do que acontecera, na capital, enaltecendo o modelo que acreditava vir a ter lugar, na final da “Champions”, na Invicta. Enganou-se. Com a sua provecta idade já devia saber que não se deve cuspir para o ar, sob pena de a saliva nos cair na testa. Imagino, agora, a fachada do Pintinho toda sebenta com a badalhoquice que a sua cidade viveu, vergada à cerveja, ao tinto e aos chãos vomitados.

 

(Foto DR)

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Publicado em Opinião