Pedro Nuno foi transfigurado, durante meses, num político imprudente e imaturo. A direita portuguesa tentou construir uma imagem de uma pessoa completamente diferente da que havia sido autarca, deputado e ministro.
A maioria absoluta, que o PS conseguiu nas últimas eleições legislativas, foi uma malapata que não se pode desejar nem ao pior inimigo. Não houve um só mês em que a governação não fosse atacada, de forma cáustica, por problemas com ministros ou com secretários de Estado, em que não existissem problemas de falta de coordenação, em que não se sentisse a necessidade de uma ampla remodelação de atores e de processos.
Mesmo com excelentes resultados nas finanças, na economia e nos salários, os portugueses estavam zangados.
O Partido Socialista avançou para a escolha de um novo líder e, ao mesmo tempo, para uma campanha eleitoral. Pedro Nuno Santos ganha o partido, mas o longo e ruidoso inquérito parlamentar, sobre a gestão da TAP, havia deixado marcas, apesar de, no que lhe dizia respeito, ter ficado quase tudo esclarecido.
O primeiro momento em que Pedro Nuno começa a contrariar o massacre de que estava a ser alvo, é o Congresso em que é eleito. Não há um pingo de radicalismo, não há a menor das dúvidas sobre a sua posição no centro-esquerda que não nega a experiência importante dos acordos com o PCP e o BE. Mas, mesmo assim, a campanha difamatória continuou.
O segundo momento foi a construção das listas de deputados. O partido de Pedro Nuno é um PS inclusivo que integra desde ecossocialistas a sociais liberais. E com o caminho para a elaboração do Programa de Governo, essa abrangência, nos campos político e ideológico, foi ainda mais nítida. Tudo isto em dois meses.
O terceiro momento de acerto de contas com o “boneco” que lhe quiseram colar à pele, foi o da longa série de debates acompanhada de um conjunto de reuniões temáticas pelo meio.
Atenhamo-nos um pouco mais aqui.
Nos encontros com empresários, cientistas, homens de cultura, profissionais liberais, o que o país constatou foi um PNS que não condizia com a caricatura construída. Seguro, confiante e confiável, sabedor do caminho a seguir, conhecedor da realidade portuguesa no todo e nas partes, não houve um só empresário do turismo ou da indústria, mesmo sem pensar em votar PS, que não tenha encontrado alguém com uma enorme dimensão de Estado.
Os debates até ao final foram outro dos espaços de afirmação. Jogando firme, por vezes excessivamente contido, o que garantiu foi a credibilidade dos que não elevam a voz e a atenção dos querem saber o que vai acontecer à sua vida.
Mas houve dois instantes que podem ter incrementado a caminhada para uma vitória folgada em 10 de março.
O segundo foi o debate com o líder da AD em que PNS demonstrou uma sustentação política e técnica únicas, em que se apresentou como um verdadeiro líder e um construtor e em que garantiu a apreciação de muitos votantes do centro político ainda indecisos.
A pergunta que se deve colocar, depois deste percurso, é a seguinte – tudo isto basta para ganhar eleições? A minha resposta é – Não!
São três as obrigações que cumprem ao PS para que os Portugueses voltem a confiar.
1ª Garantir que o próximo Governo não vai ser mais do mesmo, que não vai permitir a informalidade que se veio a acentuar nos últimos anos, que não vai continuar com protagonistas que já demonstraram não cumprir os mínimos olímpicos, que não vai facilitar na organização do Estado e na motivação das administrações públicas;
2ª Garantir que o PS é o grande partido do centro esquerda, que não se deixa marcar determinantemente pelos antigos companheiros de viagem, que os grandes objetivos de política só se podem construir com as forças dinâmicas da nossa sociedade, que o Estado não é o ente único e salvador, que o aumento dos salários e das pensões só se pode afiançar com mais e melhor economia;
3ª Garantir, por fim, que a máquina do PS não se abanca a viver dos rendimentos, que não bate palmas só à passagem do líder pelos distritos, que não faça só os mínimos através de uma campanha sentada, que sabe ir, com coragem e sabedoria, ao encontro do povo, que confirme o apoio dos mais velhos, que mobilize os jovens, que não tem horror às novas formas de levar a mensagem, que não desiste de “comer relva”.
Se tudo isto for bem entendido e interiorizado, no dia 10 de março o PS ganhará as eleições e PNS será o próximo primeiro ministro. Para isso importa o voto certo de todos os portugueses de esquerda e uma mensagem de alegria e futuro que tenha o eleitorado que oscila ao centro nas palavras de todos os dias.
Ascenso Simões