É terrível e temível o resultado de um inquérito feito a estudantes portugueses do ensino superior. 69% prevê emigrar assim conclua a sua formação académica.
O que é que isto significa? Que este país não é para jovens.
Que os jovens, por ausência de perspectivas futuras, abandonam Portugal.
Que sendo já um país com grave deficit demográfico, o que se prevê é um aumento exponencial desse recuo. A breve trecho seremos um país de velhos. Mas ao que observamos em vários sectores, principalmente no da Saúde, este país também não é para velhos.
Este cenário carreia em si uma pluralidade de variáveis e suas consequências, sendo a mais inquietante a de, a curto prazo, termos um país sem matéria cinzenta suficiente para enfrentar os desafios tecnológicos do mercado.
Ou seja, o oito e o oitenta. Passamos de um extremo em que os jovens são tão “maltratados” pelo mercado de trabalho, pela precariedade dos vínculos laborais, pelo desemprego, pelos baixos salários, a outro, em que não os teremos, porque pura e simplesmente partiram.
Recordo que ninguém emigra por gosto. Emigra-se por necessidade e por ausência de alternativas e de horizontes futuros dadas pela “madrasta” pátria.
Em breve atingiremos um patamar estatístico em que não existirá oferta de mão-de-obra qualificada no mercado, quando hoje não há procura. E quando aí chegarmos, não vamos esperar que os jovens que “exportámos” regressem ao lar. Porque, entretanto, criaram um novo lar no país que os acolheu, contribuindo, decididamente para a riqueza e crescimento demográfico daqueles que lhes abriram as portas do mundo profissional.
Que país é este que faz desta diáspora, há séculos, cenário, palco e intriga das vidas?
Que país é este que se descredibilizou de tal forma perante a sua juventude recém-formada que em cada 100, 69 vira-lhe as costas? Mas vira-lhe as costas porquê? Porque a Pátria, há muito, para eles perdeu rosto e identidade. A Pátria só tem costas!
E depois admiramo-nos da saudade ser tão lusitana… quando devíamos era execrar a cegueira de gerações de governantes que apenas sabem o verbo governar na 1ª pessoa do singular, conjugação pronominal reflexa:
Eu governo-me.
Nota: Escrevi este texto em Agosto de 2012 e, pela sua actualidade, aqui o deixo.