Estaline, o dinheiro e o sexo

Escolheu um homem violento, sedento de mandar, um incomensurável predador sexual, um assassino. Quando caiu em desgraça, reuniram-se pastas e pastas de incriminação, estudadas pelos historiadores. Montefiore diz que os interesses de Béria eram o poder, o terror e o sexo. Exercia obsessivamente os três quando se deslocava no seu Packard blindado. Os guarda-costas capturavam mulheres como quem caça. Aquela que recebesse o seu elogio entrava em pânico. Podia acabar presa, violada, deportada e morta.

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  • 21:16 | Sábado, 30 de Janeiro de 2021
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Dias depois da vitória dos Trabalhistas em Inglaterra, que afastou Churchill do poder, Belisário Pimenta foi à Feitoria do Colégio Militar, em São Julião da Barra. Era o último dia de Julho de 1945. Regressado a casa, tomou uma curiosa nota. A nós, que vivemos depois do Brexit, o episódio descrito faz lembrar a intromissão russa na saída do Reino Unido da União Europeia. Num caso, fala-se de dinheiro; no ouro, de redes sociais e notícias falsas.

«Colhi aqui», escreve Belisário Pimenta, «a curiosa versão das razões da vitória eleitoral trabalhista em Inglaterra: foi o ditador russo Estaline que comprou o eleitorado inglês, que inundou de oiro as classes trabalhadoras e daqui veio o triunfo!» Belisário Pimenta achou natural escutar esta atoarda naquela instituição, que ele considerava ultraconservadora e cujo director proclamava que a guerra ia recomeçar.

Estaline, que talvez se risse disto, precisou do lançamento da primeira bomba atómica para verificar o atraso militar da União Soviética. Atribuiu de imediato a Béria a responsabilidade de acelerar um projecto já em curso nessa área.

Escolheu um homem violento, sedento de mandar, um incomensurável predador sexual, um assassino. Quando caiu em desgraça, reuniram-se pastas e pastas de incriminação, estudadas pelos historiadores. Montefiore diz que os interesses de Béria eram o poder, o terror e o sexo. Exercia obsessivamente os três quando se deslocava no seu Packard blindado. Os guarda-costas capturavam mulheres como quem caça. Aquela que recebesse o seu elogio entrava em pânico. Podia acabar presa, violada, deportada e morta.


Estaline admitia tudo, desde que não estivesse em causa a confiança política. Terminada a guerra, o supremo passou a ver mais filmes, que os lacaios escolhiam mediante a interpretação do seu estado de espírito. Estaline, que continuava a gostar de Charlot, dispunha agora do amplo acervo que fora de Goebbels. Apreciava policiais, cowboys, gangsters. Muito ao contrário de Béria, repudiava as cenas sexualizadas. Um tinha a secretária atravancada de lingerie e pornografia, o outro preferia a luta física. Montefiore diz que, certo dia, perante «uma cena ligeiramente mais ousada, que envolvia uma jovem nua, deu um murro na mesa e gritou» ao assistente: «“Está a fazer disto um bordel, Bolchanov?” E saiu, seguido por todo o Politburo, deixando o pobre Bolchanov à espera de ser preso.»

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Publicado em Opinião