No Verão de 1942, escutando talvez os pássaros que preenchiam a árvore plantada por ele em frente da janela do escritório, Aquilino Ribeiro redigiu o prefácio do livro Os Avós dos Nossos Avós.
Nessas dezenas de páginas, tentou definir a psicologia étnica dos portugueses, tarefa em verdade mais própria para a imaginação de um romancista do que para um cientista sujeito às penas da dedução.
Como entra aqui a bicicleta? Pela frincha do orgulho que anima os herdeiros dos lusitanos. «O português vulgar, de facto,» escreve Aquilino, «de tudo se mostra glorioso sem excepção, da bravura dos avós e da sua, da galantaria de portuguesinho valente, dos pitéus nacionais, da paisagem, da estátua de D. José e do Nicolau velocipedista.»
Por aqui se vê que o ciclismo pode estar presente até nas mais profundas lucubrações identitárias, se o pensador quiser.
Nuno Rosmaninho
(Foto DR)