Na consulta ao Dicionário (online) da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, encontramos duas interessantes definições das palavras “efebo” e “geronte”:
EFEBO – na Grécia antiga, jovem que, tendo atingido a maioridade civil, ingressava no sistema de formação cívica e militar, a efebia.
GERONTE – cada um dos 28 magistrados, com idade superior a sessenta anos, que formavam, em Esparta e em outras cidades da Grécia antiga, o Senado, órgão com importantes competências jurisdicionais e políticas.
A história da antiguidade clássica está em desuso, não terá muitos adeptos, mas tem muito a dar a quem queira aprender. Para o propósito da reflexão a que me proponho, conhecer a origem das palavras ajudará a compreender o que podem ser a “EFEBOCRACIA” ou a “GERONTOCRACIA”. O “efebo” é um rapaz novo, um jovem, um rapaz bonito (…). O “geronte” será qualquer pessoa idosa, do grego γέρων, ou -οντος, velho.
A idade de Joe Biden (80) tem sido um dos temas fortes da política americana. O seu principal adversário, o inefável Donald Trump (77), não perde uma oportunidade para o tentar ridicularizar, não tendo sequer a sensatez de olhar-se ao espelho, não percebendo que o seu idadismo obtuso poder-se-á virar contra ele.
A discussão sobre a idade dos políticos americanos voltou a preencher a agenda mediática, depois dos 35 segundos em que o líder do grupo republicando no Senado, Mitch McConnell (81), ficou em silêncio, a olhar no vazio, quando questionado, quanto à sua possível recandidatura em 2026. Já se tinha passado algo idêntico, no dia 26 de junho, no Congresso dos Estados Unidos. Confrontado por vários senadores, Mitch permaneceu em silêncio, atrás do púlpito, com uma expressão absolutamente vazia. Não me arrisco a fazer um “diagnóstico”, não será, todavia, necessário ser um especialista para, ao olhar para a sua expressão facial perceber que algo não estará bem e que haverá uma questão de saúde que lhe limita a ação, ainda que pontualmente.
É importante não confundir o envelhecimento normal com o envelhecimento patológico. É irrazoável que se queira atacar um grupo de pessoas, com base nas suas idades, proibi-las de se dedicarem à vida da polis e à cidadania ou mesmo considerá-las como uma ameaça à democracia: “Os incidentes de McConnell são algo mais que uma anedota. Constituem um sinal mais de que os EUA correm o perigo de converter-se numa gerontocracia”. Nikki Haley, em declarações à FOX, considera que “Neste momento, o senado, é a residência geriátrica mais privilegiada do país.”
Têm-se acentuado as divisões, entre quem considera que as pessoas idosas impõem nas urnas o futuro da juventude e quem entenda que o culto da juventude é o padrão para ascender ao poder.
Em Portugal, temos assistido a várias propostas do Governo para apoiar os jovens, a Agenda do Trabalho Digno, é um bom exemplo. Parece também estar a reaparecer a ideia da “peste grisalha” ou do “cisma grisalho”. Álvaro Beleza, Presidente da SEDES; esteve na Universidade de Verão do PSD e falou sobre “líderes muito grisalhos”, chegando mesmo a dizer aos jovens o seguinte: “Se vocês não se impuserem, a minha geração não desampara a loja. É preciso sangue novo.”
No “Programa Cujo Nome Estamos Impedidos de Dizer” (SIC Notícias), Carlos Vaz Marques perguntou a Ricardo Araújo Pereira: “Porque está a acontecer isto (a “gerontocracia”)? Porque os mais velhos não largam o osso ou porque os mais jovens não se chegam à frente?”.
Uma resposta, inteligente e sensata, à RAP: “Seja porque razão for, há duas maneiras de resolver o problema de haver só velhos na política, estimular a participação dos mais jovens na política, arranjar maneira de eles participarem mais, a outra é impedir os velhos de participarem. A nossa sociedade, de hoje em dia, que é tão amiga de proibir… esta semana eu vi que alguém foi à escola de verão do PSD propor que os velhos sejam proibidos de participar na política. Não sei se é boa ideia. Sem prejuízo de que todos devam participar, novos e velhos, em bom rigor, essas características que são independentes da vontade de uma pessoa – a raça, o género, a idade – em princípio, não são decisivas para votar numa pessoa, pelo menos para mim. Por exemplo, nós temos na corrida à presidência americana um jovem que ainda por cima é racializado, chamado Vivek Ramaswamy. Tem 38 anos este jovem, é, realmente, uma lufadazinha de ar fresco… é candidato republicano e diz que o aborto é homicídio, medidas para os jovens tem várias, por exemplo, aumentar a idade de votar para os 25, a Ucrânia deve permitir a ocupação dos territórios pela Rússia, para avançarmos…. É este jovem… Não é decisiva a idade dele.”
Proibir nunca será uma boa solução. Pode ser interessante estimular a participação dos jovens, dando-lhes voz e valorizando os temas que mais lhes interessam neste momento. Os jovens abraçam causas que podem ser o “gatilho” para aumentar a participação: acesso à habitação, sustentabilidade ambiental, luta contra a precariedade laboral, ensino superior…
Na política, no mundo do trabalho, na comunidade, nas relações interpessoais, a maior riqueza extrai-se da diversidade, para a qual a multigeracionalidade terá um grande contributo a dar.