O Carnaval é de todas as quadras festivas aquela pela qual nutro menos simpatia.
A minha relação com o Carnaval reveste-se de uma dualidade que não consigo explicar. Se por um lado acho que as pessoas devem dar azo à sua imaginação e devem aproveitar esta quadra para se divertirem, por outro lado, raras são as manifestações carnavalescas a que acho piada, excepção feita às manifestações tradicionais, como o Entrudo em Lazarim.
Não me lembro de alguma vez me ter deslocado para assistir aos corsos carnavalescos que singram por esse país, corsos esses, que cada vez mais, são umas imitações desadequadas do Carnaval brasileiro. Não me lembro de alguma vez me ter mascarado! Devo ser das poucas pessoas que neste país nunca se mascarou, mesmo em criança!
Nós, os meninos e meninas da Serra quando muito poderíamos mascarar-nos com os trastes velhos que jaziam a cheirar a mofo no fundo das malas e arcas de madeira.
Na nossa terra os mascarados eram conhecidos por “ensaiados” e confesso que desde menina sempre me meteram receio, não só pela forma como se mascaravam, normalmente com roupas velhas, escuras e com a cara tapada com um lenço preto, como também pelas brincadeiras que levavam a cabo, que eram tudo menos inocentes.
Lembro-me de num dia de Entrudo, num desses grupos de ensaiados andar um rapaz, filho de uma família muito considerada na aldeia e que quando se soube que ele tinha sido o autor de algumas brincadeiras os pais ficaram bastante envergonhados com tal comportamento.
Muitas vezes eram os próprios “ensaiados” que se desentendiam e a festa acabava em pancadaria, com uma cabeça rachada que possibilitava descobrir quem estava por detrás do lenço.
Foi talvez por tudo isto que eu nunca me mascarei, aliás a minha mãe nunca o permitiria e por ainda hoje não achar graça nenhuma ao Entrudo, porque ao contrário dos ditados não aceito que no Entrudo passa tudo e que no Carnaval ninguém leva a mal.
(Foto DR)