Corrupção rima com podridão

Por seu turno, os políticos, de acordo com a origem partidária do suposto corrompido, numa pendular incoerência, mantêm posições públicas dúbias de uma ambiguidade e plurivocidade constrangedora. Ou seja, se for um adversário político, “aqui d’el-rei… prenda-se já!”, se for um correligionário “é preciso dar tempo à justiça, ser arguido não é crime, estamos tranquilos, o detido merece toda a nossa confiança…”

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  • 23:37 | Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
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Algo está muito mal num país onde, com uma frequência assustadora, da parte de detentores de poder político, surgem casos de suspeição e de indícios da mais atordoadora corrupção.

À escala planetária, por exemplo, Trump que foge ao fisco como o diabo da cruz, chama publicamente corrupto a Biden que retorque chamando-o de criminoso. Lula da Silva esteve preso por alegada corrupção, talvez agora seja a vez de Bolsonaro. Nos países onde a democracia é inexistente e a imprensa é censurada, a mais fértil imaginação andará afastada da realidade autocrata e cleptocrata vigente…

No Parlamento Europeu, há bem pouco tempo, uma das suas vice-presidentes, a grega Eva Kaili, foi afastada, detida e viu os seus bens e dos seus directos familiares congelados por corrupção, praticada supostamente pelo Catar. Uma gota d’ água…


Em Portugal, os casos de corrupção são o pão nosso de cada dia. Dos altos cargos governativos, às autarquias, das câmaras às juntas de freguesia, na alta finança, como o caso BES, nos ceo’s de grandes empresas (cansar-me-ia a enumerá-los), nas instituições, públicas e privadas, no mundo do alto desporto… a corrupção banalizou-se.

Verdade assente que é necessário sermos detentores de poder para sermos alvo de tentativa de corrupção. Ninguém, em seu perfeito juízo, vai corromper quem não exerce o poder de decidir e de alterar decisões em benefício do corruptor.

 

 

A sua prevenção e a implementação de medidas mais eficazes para a combater, por seu turno, não caem nas boas graças de quem tem o poder de as implementar.

Hoje, no aparelho partidário português, ainda só não se detectaram vestígios de corrupção nos partidos que nunca tiveram a oportunidade de exercer o poder. A seu tempo lá chegaremos.

Grosso modo, a corrupção resulta de uma utilização sistemática de um cargo público ou privado para obter uma vantagem privada, da utilização de uma posição de responsável de um serviço público ou privado em seu benefício pessoal.

Num tempo onde a ética profissional anda pelas ruas da amargura, a falta de transparência e a opacificação de certos serviços aliado, ao ao culto material, geram e permitem amplas perversões neste domínio.

Por seu turno, os políticos, de acordo com a origem partidária do suposto corrompido, numa pendular incoerência, mantêm posições públicas dúbias de uma ambiguidade e plurivocidade constrangedora. Ou seja, se for um adversário político, “aqui d’el-rei… prenda-se já!”, se for um correligionário “é preciso dar tempo à justiça, ser arguido não é crime, estamos tranquilos, o detido merece toda a nossa confiança…”

Perante este charivari cacofónico, os impolutos que ainda não tiveram oportunidade de se macular, disparam positivas rajadas de moral sobre os supostos prevaricadores, decerto pouco preocupados com os seus actos de corruptos, mas sim com a retórica da banha da cobra eleitoralista que lhes vai, certamente, permitir arrecadar mais votos, sem nada terem feito para os merecer.

 

 

 

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Publicado em Opinião