Confinados a quatro paredes

Como estará a ser o dia-a-dia de milhares de cidadãos com parcos recursos económicos, em casas sem condições físicas e reais de ali decorrer um aceitável isolamento?

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  • 22:24 | Quinta-feira, 26 de Março de 2020
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Quando hoje falamos em quarentena, fruto da mais que acertada medida de Estado de Emergência, há uma questão colateral que deveremos ter presente:

Como estará a ser o dia-a-dia de milhares de cidadãos com parcos recursos económicos, em casas sem condições físicas e reais de ali decorrer um aceitável isolamento, com milhares de idosos privados do seus humildes e triviais hábitos, de passeio, da leitura do jornal, da conversa com os amigos, privados dos afectos dos seus, com inúmeras famílias asfixiadas num exíguo espaço compartilhado 24 por 24 horas com crianças e adolescentes de todas as idades, sem meios materiais para se aprovisionarem condignamente de víveres de primeira necessidade, etc., etc., etc.?

Mais ainda, como decorrerá a quarentena em lares onde o desemprego paira, podendo vir a faltar a única fonte de subsistência de centenas de milhares de famílias, que se verão de repente na miséria, entregues à solidariedade social, ou in extremis ao abandono? Para estes, a quarentena será muito mais angustiante e dura …


Pode-se sempre dizer que se preservada a saúde o resto virá por acréscimo. De acordo. Mas efectivamente o governo tem de imediato prioridades a cumprir de forma que se deseja célere e eficaz, prioridades essas que têm o seu eixo nodal na luta sem tréguas para debelar o surto pandémico e na máxima atenção e apoio prestado aos profissionais no terreno, da saúde, forças de segurança, camionistas, empregados de grandes superfícies, etc.

De seguida e fazendo fé no estado social, decerto que a acção governativa se irá centrar nestes desacautelados da fortuna, para quem o Covid-19 representa um acréscimo de sobrecarga brutal e desproporcional, nas suas já de si tão doridas e depauperadas vidas.

É neste contexto de restrições inultrapassáveis que o social se veste de dupla significação: o da emergência de um novo tipo de vivência temporária fechada para dentro, endogénica, onde muitos milhares, senão milhões, depararão com graves e crescentes dificuldades e o da implementação de medidas que, a posteriori, energicamente, possam debelar as feridas profundas que inevitavelmente resultarão desta gravíssima e inesperada crise.

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Publicado em Opinião