Aos trinta dias de Governo, Montenegro recebeu de Pinto Luz três folhas quase em branco. Como despacho, o Ministro das Infraestruturas escreveu – “À consideração superior.”
Essas informações curtas tinham em anexo dezenas de pastas com os estudos que vinham do anterior Executivo. O relatório da Comissão Técnica Independente, as propostas da Infraestruturas de Portugal sobre nova ponte e os traçados do TGV. Claro está, a Aliança Democrática vai tentar propagandear a sua grande competência para, em tão curto espaço de tempo, ter feito o que não foi feito em meio século.
Como se poderá constatar, Pedro Nuno Santos tinha razão. Tudo o que sustenta as decisões desta semana vinha do seu tempo.
Estes anúncios seguem-se a outros, igualmente decorrentes de mais três folhas com informações quase em branco.
Para estas medidas basta saber fazer contas a partir das informações dos sistemas informáticos da Segurança Social e da Administração Tributária e reforçar as dotações.
Ao apresentar medidas para a eliminação das condições de recursos e uma alteração dos escalões de IRS, Pedro Nuno Santos tinha estudado, proposto, adiantando-se a Montenegro. Obrigou-o, assim, ao uso da “esperteza saloia” pela mera antecipação de medidas que iriam ser aprovadas pela Assembleia da República.
Há, contudo, qualquer coisa que não joga. Um mês a passarem a ideia de que Medina não tinha deixado os cofres recheados, que as contas tinham sido matraqueadas, que o país, afinal, não estava nada bem e, no fim, é o atual Governo a colocar mais despesa em cima da já existente.
No mesmo caminho, recebemos as notícias sobre o novo pacote para a habitação. E o que nos diz tanta ladainha em 50 slides? Três coisas – 1) as medidas do PS afinal eram boas; 2) só era preciso resolver alguns estrangulamentos na sua implementação; 3) e para que o eleitorado das direitas não ficasse chateado, resolveram eliminar o arrendamento forçado (que nunca tinha saído do papel) e passaram as regras sobre o Alojamento Local para os municípios.
Voltaram a ter razão Pedro Nuno e Marina Gonçalves. O Mais Habitação era um bom programa que mereceu, finalmente, o ok das direitas que agora governam.
Muitos dirão que temos um Governo Red Bull. Em dias mudou a face da terra. Será essa a campanha que tentarão fazer. A forma pomposa como foram apresentadas as medidas tem esse objetivo. E não há qualquer dúvida de que o Ministro das Infraestruturas sabe da poda, transforma um fontenário numa obra estrutural de grande alcance.
Há contudo os graves problemas que foram criados pelo Governo e que este não sabe resolver – os saneamentos políticos.
A conclusão é simples – tudo o que vinha de Costa e precisava de um despacho final está em marcha; tudo o resulta da incompetência dos ministros, arrasta-se, anarquiza os serviços, demonstra que a AD não sabe o que quer fazer com as máquinas do Estado. Em suma – não sabe governar.
Talvez fosse bom deixarem de se preocupar com a cor dos olhos dos dirigentes das administrações públicas e começarem a fazer qualquer coisa que seja mesmo da sua autoria.
Ascenso Simões