Como Montenegro tenta dizer que está a movimentar-se estando parado

Muitos dirão que temos um Governo Red Bull. Em dias mudou a face da terra. Será essa a campanha que tentarão fazer. A forma pomposa como foram apresentadas as medidas tem esse objetivo. E não há qualquer dúvida de que o Ministro das Infraestruturas sabe da poda, transforma um fontenário numa obra estrutural de grande alcance.

Tópico(s) Artigo

  • 18:10 | Segunda-feira, 20 de Maio de 2024
  • Ler em 3 minutos

Aos trinta dias de Governo, Montenegro recebeu de Pinto Luz três folhas quase em branco. Como despacho, o Ministro das Infraestruturas escreveu – “À consideração superior.”

Essas informações curtas tinham em anexo dezenas de pastas com os estudos que vinham do anterior Executivo. O relatório da Comissão Técnica Independente, as propostas da Infraestruturas de Portugal sobre nova ponte e os traçados do TGV. Claro está, a Aliança Democrática vai tentar propagandear a sua grande competência para, em tão curto espaço de tempo, ter feito o que não foi feito em meio século.

Como se poderá constatar, Pedro Nuno Santos tinha razão. Tudo o que sustenta as decisões desta semana vinha do seu tempo.


Estes anúncios seguem-se a outros, igualmente decorrentes de mais três folhas com informações quase em branco.

Foi assim com o aumento das pensões, a entrega de medicamentos a custo zero aos idosos mais pobres e a eliminação das condições de recursos para atribuição do RSI.

Para estas medidas basta saber fazer contas a partir das informações dos sistemas informáticos da Segurança Social e da Administração Tributária e reforçar as dotações.

Ao apresentar medidas para a eliminação das condições de recursos e uma alteração dos escalões de IRS, Pedro Nuno Santos tinha estudado, proposto, adiantando-se a Montenegro. Obrigou-o, assim, ao uso da “esperteza saloia” pela mera antecipação de medidas que iriam ser aprovadas pela Assembleia da República.

Há, contudo, qualquer coisa que não joga. Um mês a passarem a ideia de que Medina não tinha deixado os cofres recheados, que as contas tinham sido matraqueadas, que o país, afinal, não estava nada bem e, no fim, é o atual Governo a colocar mais despesa em cima da já existente.

Claro que a realidade desmente Montenegro, cala Sarmento e envergonha os “comentadeiros” de serviço. E Bruxelas ainda dá uma sova ao Ministro das Finanças que o deixa a “rabear”.

No mesmo caminho, recebemos as notícias sobre o novo pacote para a habitação. E o que nos diz tanta ladainha em 50 slides? Três coisas – 1) as medidas do PS afinal eram boas; 2) só era preciso resolver alguns estrangulamentos na sua implementação; 3) e para que o eleitorado das direitas não ficasse chateado, resolveram eliminar o arrendamento forçado (que nunca tinha saído do papel) e passaram as regras sobre o Alojamento Local para os municípios.

Voltaram a ter razão Pedro Nuno e Marina Gonçalves. O Mais Habitação era um bom programa que mereceu, finalmente, o ok das direitas que agora governam.

Muitos dirão que temos um Governo Red Bull. Em dias mudou a face da terra. Será essa a campanha que tentarão fazer. A forma pomposa como foram apresentadas as medidas tem esse objetivo. E não há qualquer dúvida de que o Ministro das Infraestruturas sabe da poda, transforma um fontenário numa obra estrutural de grande alcance.

Há contudo os graves problemas que foram criados pelo Governo e que este não sabe resolver – os saneamentos políticos.

Já levamos três semanas de notícias sobre a demissão de Fernando Araújo enquanto Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde; já levamos três semanas sobre a exoneração da Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; já levamos três semanas sobre o anúncio da decapitação da direção da AIMA; estamos a assistir agora à baila dos lugares principais do Ministério da Cultura em que os convidados dizem aos jornais que não sabem se aceitam os convites.

A conclusão é simples – tudo o que vinha de Costa e precisava de um despacho final está em marcha; tudo o resulta da incompetência dos ministros, arrasta-se, anarquiza os serviços, demonstra que a AD não sabe o que quer fazer com as máquinas do Estado. Em suma – não sabe governar.

Talvez fosse bom deixarem de se preocupar com a cor dos olhos dos dirigentes das administrações públicas e começarem a fazer qualquer coisa que seja mesmo da sua autoria.

 

Ascenso Simões

 

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por
Publicado em Opinião