Quando o CO2 se torna excessivo na atmosfera,
muitos “ambientalistas” revoltam-se, juntam-se e gritam
por ações de governos;
poucos plantam bosques de árvores de fruto,
cultivando legumes no solo que estes criam,
e rasgam, desse modo, os caminhos em direção do futuro.
(Adaptação de um conhecido provérbio chinês).
A 26ª Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas, que decorreu em Glasgow de 31 de out. a 12 de nov. evocava, nas vésperas da abertura, expectativas em poucos e receios de fracasso generalizados (a começar pelo SG da ONU). Quais os termos da questão que nos deveria preocupar a todos? Todos, neste caso deveríamos debater a questão e é o que nos propomos fazer. O “dióxido de carbono” (CO2), com origem na atividade económica, está na origem do aquecimento global (quantificando-se 1,2º acima do início da era industrial). Assim sendo, diz-se, e a opinião publicada confirma-o, forçoso se torna reduzir as emissões se queremos evitar uma catástrofe de proporções “bíblicas”, num futuro que se aproxima a grande velocidade.
É certo, já Descartes nos alertava, que a opinião unânime não constitui argumento. Comecemos, pela Química. Ensina, nomeadamente, que as moléculas de CO2 são estáveis e não vão desaparecer nos próximos 10.000 anos. O que poderemos fazer para lá das manifestações e do medo do futuro próximo?
Continuemos, pela necessidade de energia dos países em desenvolvimento que aspiram a níveis comparados aos do ocidente, e que não hesitarão em recorrer ao carvão e ao petróleo para o conseguir. Convenhamos que não lhes faltam razões.
Resta-nos concluir que coocorrências não equivalem a causas. Fazer essa relação de causalidade é asneira. Há que contar com o facto de que a agricultura, impulsionada pelas multinacionais (da soja, do café, da banana, do óleo de palma, ou das mais diversas plantações intensivas em regime de monocultura), a designada revolução verde, está associada à desflorestação massiva. Trata-se de uma espécie de taylorização da agricultura, quando a indústria, onde nasceu a Organização Científica do Trabalho, há muito se converteu à organização em rede com base nas pequenas unidades interelacionadas. Ora um “excesso” não deixa de ser uma relação. Pode ser uma relação que implica um déficit. Vejamos, então, o que se passa com o famigerado CO2.
O CO2 ficou em suspensão na atmosfera, fruto de um déficit de árvores que o capturem.
Pensamos que há um vício de raciocínio (porventura, nada inocente) que consiste em levar-nos a “pensar global para agir local” (o CO2 afeta todos, todos terão de transitar para a mobilidade elétrica), e pagar o preço. A participação democrática fica limitada ao voto.
O que se poderia propor? Pensar local e agir global (em todos os lugares existem solos que podem ser reflorestados à base de espécies frutícolas). Tal alternativa permite que todos participem na solução.
Há efetivamente esperança, como têm defendido autores diversos como Ernest Gotsch, com provas acumuladas na Mata Atlântica do Brasil, ou, mais próximo de nós, como Alfredo Sendim, na Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo. E, mais importante, com este novo paradigma agroflorestal, essa esperança pode florescer na vida de cada ser humano, convertido a trabalhar “com” a natureza.
Como produtores, como divulgadores ou como consumidores, todos temos um papel a desempenhar, neste retorno à replantação dos Jardins do Éden, de onde a ambição do domínio da natureza nos expulsou a todos.
Albino Lopes
(Prof. Cat. Jubilado do ISCSP/Ulisboa)
[1] https://www.youtube.com/watch?v=6t_aZbKh3Bg