As cores da paixão…

Este cocktail hormonal provoca nos apaixonados sintomas que podem ser confundidos com uma doença como: o aumento da pressão arterial, da frequência respiratória e dos batimentos cardíacos, a dilatação das pupilas, os tremores e o rubor, além de falta de apetite, concentração, memória e sono.

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  • 9:24 | Domingo, 12 de Maio de 2024
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Segundo o evangelho, começou numa quinta-feira a paixão de Cristo, o martírio que o levaria à crucificação e à morte. Neste contexto a paixão tem um significado associado, a uma dor extrema tanto de Cristo, como de todos os que o amavam e que impotentes assistiram ao seu sofrimento.

Deveria falar-se da paixão de Maria, a mãe que nada pode fazer para salvar o seu amado filho! Talvez relacionado com este momento da vida de Cristo, muitas vezes associa-se a paixão ao sofrimento e não raras vezes ouvimos expressões como: “tenho o coração tão negro, com uma paixão tão grande que não sei o que ele me adivinha”, “a Maria traz com ela uma paixão que a vai matar”, “depois que o filho morreu ela anda muito apaixonada”. Esta paixão é roxa…


A paixão também está associada a um sentimento bom, de alegria, felicidade, exaltação, amor intenso. Quando nos apaixonámos adquirimos uma energia, um estado de bem estar que somos capazes de nos transformar, de nos superar, de renascer…Esta paixão é vermelha, sinónimo de sangue, sinónimo de vida…

 

A maior surpresa relativamente a esta temática da paixão surgiu quando li o livro: Uma Mochila Para o Universo de Elsa Punset. Para responder à questão: É verdade que a paixão se parece com uma doença compulsiva? A resposta dada é a seguinte: A mim, logo à partida, a simples ideia de estar apaixonada, como no primeiro dia, cansa-me. Dão-me razão os estudos mais rigorosos que afirmam que a paixão é uma desordem obsessivo-compulsiva, que em tudo se assemelha, através da química e da sintomatologia. Tenho a impressão que a única razão porque não incluíram a paixão na categoria de doença comum foi por não poderem internar-nos a todos. É aqui que entronca um segundo livro: A Natureza do Amor, de Donatella Marazziti, psiquiatra na Clínica Psichiatrica dell’Università di Pisa. O livro tem por base a experiência de mais de 20 anos da autora com portadores de transtornos mentais cujos efeitos se reflectem na parte psíquica, social e afectiva ao ponto de estes doentes perderem a capacidade de amar. Os estudos levados a efeito por esta cientista e colaboradores comparam os sintomas da paixão com a doença psiquiátrica denominada desordem obsessiva compulsiva, concluindo que nas duas situações os mecanismos bioquímicos que se desenvolvem no organismo são idênticos. Assim foi comprovado que a serotonina – neurotransmissor que actua como sedativo no cérebro apresenta níveis significativamente baixos na fase mais intensa do enamoramento, o que explicaria as reacções ansiosas e por vezes agressivas do apaixonado, que são equivalentes, em termos bioquímicos, a de pacientes que apresentam a doença obsessiva compulsiva. Também compararam os valores de oxitocina, apelidada da molécula do amor e de dopamina, o neurotransmissor da alegria e da felicidade.

Concluíram que a concentração destas substâncias é semelhantes nos dois grupos. Este cocktail hormonal provoca nos apaixonados sintomas que podem ser confundidos com uma doença como: o aumento da pressão arterial, da frequência respiratória e dos batimentos cardíacos, a dilatação das pupilas, os tremores e o rubor, além de falta de apetite, concentração, memória e sono.

Abençoada doença que dá razão a Marcel Proust quando afirma: Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras.

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Publicado em Opinião