Gabriela Pinheiro, na secção de MODA da revista E (Expresso) diz-nos que o “continente africano é uma grande manta de retalhos que junta várias culturas e tribos e essa diversidade é uma fonte inesgotável de inspiração para o mundo da moda.” Uma inspiração que resulta quando “misturada com referências urbanas”. Estas peças únicas conquistam as “mais sofisticadas tribos urbanas”. As tribos urbanas alimentam a indústria da Fast Fashion, a moda descartável que impulsiona e responde ao apelo desenfreado das catedrais do consumo. “Cada pessoa, pelo menos em espírito, tornou-se um hiperconsumidor.” (Gilles Lipovetshy)
A indústria do têxtil gera 2,4 biliões de dólares por ano e emprega mais de 300 milhões de pessoas (The United For Alliance Sustainable Fashion). A indústria da moda é eminentemente poluidora, responsável por 2 a 8 % das emissões de gases com efeito de estufa e 9% dos microplásticos despejados, anualmente, nos oceanos, consome 215 biliões de litros de água por ano e menos de 1% do material usado para produzir roupa é reciclado. O contente africano, que serve de inspiração à indústria da moda, paga um preço altíssimo porque 70% da roupa usada no mundo é para lá enviada “ganhando uma segunda vida”.
Uma empresa de Braga, a Ultripo, procede à recolha periódica, faz a triagem e envia os fardos para países africanos. 7 milhões de quilos de roupa por ano transportados em 3000 contentores. O CEO, Jan Karis, não revelou (o segredo é a alma do negócio) o preço de cada fardo. Há alguns anos a “roupa do brancos mortos” chegava aos mercados africanos com tanta qualidade e em quantidade que os seus recetores pensavam que os seus anteriores donos tivessem morrido.
A “caridade da roupa”, na verdade, é um negócio de milhões que mais não é do que despejar o “lixo dos ricos no quintal dos pobres”. Também no Gana foi instalado um dos maiores “cemitérios eletrónicos” do mundo, um dos locais mais poluídos do planeta. É impossível ficarmos indiferentes aos escaladores, apanhadores de lixo, que procuram plástico, cartão, metais, no lixão de Nope, na guerra diária pela sobrevivência.
Não é difícil de compreender o que motiva muitos homens e mulheres a arriscarem as suas vidas na travessia oceânica com destino à Europa.
(Fotos DR)