Há assuntos demasiado graves e sérios para serem tratados com punhos de renda!
Estão nesses casos os abusos sexuais de menores, sejam quem for os predadores.
Atenção que não quero com isto dizer que se suprimam direitos de defesa, nada disso.
Tais actos são criminosos e como tal puníveis e assim o devem ser, seja quem for o seu Autor ou autora. Além da responsabilidade criminal existe a responsabilidade civil, porque tais crimes lesam as vítimas, criam danos de vária ordem e durante toda a Vida .
O que leva a Igreja a rejeitar a possibilidade de indemnizar as vítimas, como parece ser o caso?
A Igreja Católica é uma Instituição religiosa milenar, que passou ao longo da História por períodos mais ou menos conturbados, e tem séculos de afirmação.
Até para si própria como Instituição, para o seu prestígio, para os seus fiéis, para os católicos.
Não pode minimizar os efeitos de uma atitude silenciadora que teve perante casos, de verdadeira cumplicidade e negligência.
A omissão é igualmente punível!
Há católicos a reagir contra a posição assumida pela Igreja portuguesa, há fiéis desiludidos e constrangidos.
Mas a prioridade aqui é e deve ser a das vítimas, a de as proteger, defender e dar-lhe voz. E sobretudo garantir que no futuro tal não volte a acontecer. E se suceder que seja um caso isolado, punido e que não prescreva perante a lei do Estado!
Alegam os bispos entrevistados que as provas têm de ser sólidas e só após o exercício do contraditório se irão tirar consequências.
Nada a opor relativamente aos direitos de defesa e ao valor da presunção de inocência. Muito pelo contrário!
Mas como todos sabemos, ou devemos saber, a suspensão preventiva dos sacerdotes suspeitos, em nada afecta o direito ao contraditório.
Dizer o contrário é colocar venda nos olhos dos concidadãos e esconder a cabeça na areia.
A resposta parece-me clara e simples. O estigma é relativo e pode ser afastado ou atenuado com a colocação noutra paróquia quando o resultado do contraditório e juízo de valoração das provas for o da inocência.
Por outro lado, o risco de continuação da actividade criminosa junto de menores, cria nestes consequências nefastas para a Vida toda! Como qualquer pessoa muito bem sabe!
Que se passa? De que tem medo a Igreja, o que a assusta?
Com esta atitude que está a tomar, arrisca-se a criar a Si própria um verdadeiro labéu de dimensão significativa!
Cristina Santos Lopes
Advogada