Na verdade, não sei para que lado tombar, a razão faz-me balançar, o coração faz-me hesitar. Não há meio de encontrar o fio de prumo, que enquadra o equilíbrio, o esquadro, que define a rectidão. Não é comum acontecer-me, mas, quando me dá, esta instabilidade vem com força. Estonteia-me, e não me agrada sentir-me assim.
A rusga no Martim Moniz e o motivo que a pariu. A mega operação policial, com aparato e espalhafato desnecessários, foi achincalhante e repugnante. Para quem a isso se viu coagido e para quem assistiu ao excesso. Um puro disparate. Até numa rusga exuberante, até numa perseguição feérica tem de haver a dignidade que a condição humana impõe. Se foi para intimidar, qualquer básico entende que nenhum criminoso se intimida com actos folclóricos. Por não acrescentar nada ao que verdadeiramente interessa, foi fútil. Soube a número para impressionar, “show-off” para seduzir os adeptos de um Estado securitário.
Seria mais eficaz uma polícia de proximidade, mais visível nas ruas, zeladora da ordem, desocupando secretárias e salinhas, onde agentes ao quilo tratam do expediente, acumulando-se nos corredores. E com discrição, a melhor forma de prevenir. A mim, que já pouco me surpreende, chocou-me aquele espectáculo triste e deprimente, sem critério nem juízo.
Montenegro, à cata de votos, não pode entrar na agenda extremista e cair no colo de quem só se sente bem na estúrdia e no estardalhaço, a construir estigmas e a colar selos, a provocar conflitos e a desencadear tumultos. Gente que põe sal nas feridas e combustível na frigideira. Por coisa pouca se perde o tino e se vai a credibilidade. Mas confunde-me a insegurança que vai aumentando, a marginalidade que vai engrossando, mais violenta e mais perigosa, a criminalidade que assusta, a violência que não era comum. E aí a razão leva-me para a defesa da regra, da norma, da disciplina, da ordem. Quero estar, e andar, seguro, livre dos maltrapilhos e indigentes que perturbam o meu sossego. Não estou disponível para que uns energúmenos, em nome de causas obtusas, incendeiem autocarros públicos e ponham em causa a segurança dos passageiros. Não estou disponível para assistir a tráfico de droga na via pública. Não estou disponível para tomar como banalidade a violação de inocentes. Não estou disponível para que hordas de mal-acabados perturbem o que julgo ter por direito natural.
Para essas situações, e outras, que haja forças de segurança, e que elas tenham meios, e que usem a força, se necessário for. E que não haja contemplações na intervenção e na pena a aplicar. Quero lá saber do método, se é fofinho ou musculado, da forma, se é a mais cordata ou a mais crua. Mas atribuir o crime à cor da pele é primário, combinar a delinquência com a imigração é redutor, misturar etnias com mau comportamento é julgamento próprio de tacanhos. Não há pior forma de racismo e de xenofobia do que esta confusão. Desconfiar de quem é diferente, não é sensato. De igual forma, inocentar, proteger, absolver tudo o que vem do lado de lá das fronteiras, anularmo-nos diante das minorias, ajoelharmo-nos perante elas só porque é moda e cai bem, parece-me atitude pouco lúcida.
Talvez no meio-termo, fugindo aos extremos, se encontre a sofrível solução, o possível remedeio para tão momentoso problema.