A insaciável Madame Lagarde

Quanto à madame Lagarde, indiferente a toda a miséria que semeia, esteve há pouco tempo em Portugal, em Sintra, a aditar ainda mais asfixia ao já esganado povo, reverenciada pela banca e seus corifeus, pelo grande capital e seus gestores. No fundo, os seus pares...

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  • 9:52 | Quinta-feira, 06 de Julho de 2023
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Madame Lagarde é a imponente presidente do BCE, o Banco Central Europeu responsável pela moeda única da Zona Euro, que tem como essencial objectivo a preservação do poder de compra (?) e a garantia da estabilidade de preços (?) na sua zona de intervenção.

 


Pode ser uma executiva muito bem-intencionada. Mas não parece. Em matéria de inflação – essa praga da economia de mercado – e perante o generalizado aumento do custo de vida, dos bens, dos serviços, Madame Lagarde decide penalizar salários, custos dos empréstimos de aquisição de casas, etc. Ou seja, asfixiar milhões de cidadãos, cercear o seu poder de compra, conduzir alguns à miséria, outros à insolvência e à perda das habitações a crédito adquiridas, com taxas, de súbito, tornadas insuportáveis para as depauperadas carteiras da maioria dos europeus e, claro está, dos portugueses.

As insânias do senhor Putin vieram causar terríveis danos à maioria das economias europeias, e não só. Entretanto, como em todas as situações de crise, os especuladores, agiotas, ratos de esgoto e abutres do oportunismo, saíram à rua de garras afiadas. Garras aduncas quase semelhantes às da madame Lagarde que mais parece ser uma “ponta de lança” da especulação, uma bênção para a nédia e cevada banca, uma idolatrada deusa para as grandes multinacionais.

É mais fácil esmifrar o Zé Povo do que taxar os lucros extraordinários das grandes empresas neste contexto obtidos. É mais fácil baixar juros de depósitos e aumentar juros de empréstimos. É mais fácil descoroçoar aqueles que ainda têm umas magras poupanças de fazer aforros, que não dão para a cera nem para o pavio, enquanto a banca apresenta lucros fabulosos. Como determinadas empresas, do sector do retalho, dos bens de consumo essenciais, da energia, etc.

A instabilidade instalou-se na vida de muitos cidadãos. Um mero exemplo de um conhecido meu, sexagenário, com um salário líquido de 900 euros. O senhorio da casa onde vive há anos, pagando uma renda de 350 € , deu-lhe conhecimento que esta seria actualizada, a partir do mês de Setembro para 750 €. Ou seja, para mais do dobro. Compreendemos que o senhorio tenha o direito e queira fazê-lo, até e perante o aumento brutal do custo de vida. Compreendemos a angústia do inquilino, com um filho dependente, a quem sobrarão 250 € para viver, ou seja, deduzida água e luz, restar-lhe-ão 5 € por dia para se alimentar, comprar os medicamentos que o seu precário estado de saúde exige e… para o resto (qual resto?!).

Mas este é apenas um dos casos emergentes. Há quem tenha de entregar as casas aos bancos e, de repente, em Lisboa e no Porto, por exemplo, tenha que ir viver para uns subúrbios ainda relativamente acessíveis, mas distantes, ficando de repente a dezenas de quilómetros do seu lugar de trabalho, alterando repentinamente toda a sua vida e do seu agregado familiar, filhos, escolas, etc. Mas há situações piores… as daqueles que já não ganham para comer e para ter um tecto, os novos indigentes e sem-abrigo da esplendente sociedade neo-liberal, ex-crentes do mirífico eldorado desta obsoleta e decadente Europa.

Quanto à Madame Lagarde, indiferente a toda a miséria que semeia, esteve há pouco tempo em Portugal, em Sintra, a aditar ainda mais asfixia ao já esganado povo, reverenciada pela banca e seus corifeus, pelo grande capital e seus gestores. No fundo, os seus pares…

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