Há exatamente uma semana, a filha de um amigo entrou no carro e, alguns metros depois, pediu: “Para, para, por favor, para aqui.”. O pai parou e perguntou se estava tudo bem. Obteve uma resposta surpreendente (pelo menos para nós…): “Está tudo bem pai. Tenho que apanhar aqui este Pókemon!”…
Foi assim que entrei na realidade aumentada dos bonequinhos, a nova loucura, os donos do negócio que o digam, nos cinco primeiros dias, após o lançamento do jogo, o lucro gerado pelo Pókemon Go atingiu os 12,75 milhões de euros. Notável!
Passei a estar mais atento e não tardei em perceber o sucesso do jogo na nossa cidade. A cada esquina há um grupo de caçadores de criaturas virtuais que se tornam seus treinadores.
Hoje, na FNAC, ouvi alguns adolescentes, que se preparavam para fazer uma apresentação musical, com o virtuoso Paulo Lima, a perguntarem uns aos outros se haveria por ali algum ginásio. O meu instinto foi informar que há um ginásio no piso -2… Mas, assim que ouvi as palavras Pikachu e Pókestops, rapidamente percebi que procuravam um ginásio virtual para treinar os seus troféus de caça. As dicas que a filha adolescente do meu amigo nos deu, entre uma nova caçada; a descoberta de um Pókestop e o treino das criaturas no ginásio, permitiu-me separar as águas e não confundir as máquinas do ForLife com o ginásio do jogo da Nintendo. Seria pior do que confundir a Estrada da Beira com a beira da estrada…
Se a loucura alastrou e viciou milhões de jogadores, não demorou muito tempo até que aparecessem os críticos e opositores. Nada tenho contra o jogo, apesar de nunca ter gostado da popular série de desenhos animados que o originou.
A loucura está instalada, há táxis especializados em condução lenta e paragens constantes: TÁXI PÓKEMON. A adaptação não terá sido difícil, especialmente nas grandes cidades…
O cúmulo da irracionalidade, até à data, terá sido atingida quando um caçador de americano de Pókemones foi caçado por um assaltante que o esfaqueou e nem assim se desconcentrou da importante missão que tinha em mãos e continuou de telemóvel em riste, sem recorrer à ajuda médica.
Tenho a certeza de que o jogo evoluirá e continuará a ter sucesso.
Deixo algumas dicas aos criativos:
– Quando caçarem o Fushigidane, ajudem uma senhora mais velha a levar os sacos das compras para casa;
– Quando caçarem o Ivysaur, ajudem os vossos pais nas tarefas domésticas;
– Quando caçarem o Charmander, façam uma hora de trabalho voluntário / comunitário;
Poderia continuar a dar sugestões, mas não quero castrar os criativos…
Agora vou instalar o jogo, na esperança de caçar o Pikachu e, ao treiná-lo, receber uma indicação para estender a roupa… Pelo tempo que passou, a máquina já terá terminado o ciclo de lavagem. Quem sabe se não tenho a sorte de caçar o Charizard e ele me mandar lavar a loiça enquanto o treino.
Tenho ainda a esperança de ter um Pókestop na garagem que me atribua mais poderes como contrapartida do esforço a que terei que me sujeitar para lavar e aspirar o carro…
(Foto DR)