Há agora um movimento organizado para retirar de livros escritos há tempos recuados expressões que hoje soam mal a uma elite bem pensante, ao que parece, detentora soberana do critério do que é bom e do que é mau.
E vai daí virou-se o grupo para obras clássicas da literatura, retirando-lhes palavras que, à luz da actualidade, e segundo o seu puritano juízo, podem ser consideradas ofensivas.
Na enxurrada foram “0s cinco”, de Enid Blyton, livros de Agatha Christie e as aventuras de James Bond, de Ian Fleming, entre outros, truncados de palavras e expressões que vão contra um discurso inclusivo tão na moda.
Acresce que o que, aos dias hoje, se afigura pacífico, também amanhã poderá ser contrariado e objecto de severa crítica, e porventura retirado. E andaremos neste triste virote.
Retirar e substituir seja o que for de um livro, é um exercício de censura e um perigoso regresso aos caminhos do pensamento único. Impõe-se a retirada de frases ou palavras tidas como inconvenientes e vai daí desvirtua-se o que está quieto e sossegado nas estantes e prateleiras de bibliotecas e livrarias.
Tudo tem o seu tempo, e é à luz que devem ser vistos. Criticáveis, obviamente que sim, mutilados, naturalmente que não. São incompreensíveis e horríveis estes desmandos, feitos à luz de princípios questionáveis e de uma pureza por validar.
Fazê-los, não melhora, só estraga, porque descontextualiza e arranca a despropósito o que está enraizado em terra do tempo.
Não ver isto, é o mesmo que não saber distinguir um pinheiro de um chaparro.