A baixa de Coimbra perdeu um pouco de cor.
Quando estudante de Coimbra, uma das nossas saídas nocturnas consistia em ir passear para a baixa simplesmente para ver as montras. Nestes passeios nocturnos deparávamos com pares de namorados, jovens casais, casais mais velhos e também gente solitária para quem os manequins das montras eram uma companhia. Parávamos à frente das montras, tecendo comentários que tinham a ver com a inspiração dessa noite. Muitas vezes apreciávamos as tendências da moda, namorávamos aquele par de calças “jeans” que tantos queríamos ou aquela camisola com a cor do ano que ficava um “must” naquelas calças pretas. Noutras alturas as montras preferidas eram aquelas em cujas lojas jamais entraríamos para comprar fosse o que fosse, estas eram alvo dos comentários mais imaginativos e humorados. Imaginávamos como o nosso namorado ou nós mesmas ficaríamos ridículos vestidos com aquela roupa interior do tempo dos nossos avós e choviam comentários que nos levavam às lágrimas de tanto rir. Era um passeio que nos punha bem dispostos, mesmo sabendo que a maioria das coisas que apreciávamos e queríamos, nunca seriam nossas!
Ainda hoje gosto de passear pela baixa de Coimbra, olhar as montras do meu tempo e as montras do tempo dos outros. Há uns tempos, sofri uma desilusão, aquela loja de tecidos das Modas Novais deu lugar a uma loja de souvenirs para estrangeiro comprar! Parei em frente de montra e recordei a forma alinhada e multicolorida como as peças estavam dispostas nas prateleiras. Revivi a forma como os empregados, todos homens se movimentavam dentro do balcão em forma de L e expunham as peças para que a cliente pudesse comparar os diferentes tons de bege do linho ou a suavidade do veludo. Acompanhei o empregado até à porta, que para que não existisse dúvidas da tonalidade do preto do terilene ou do tafetá, expunha a peça para poder ser observada à luz directa do sol. Senti os tecidos a serem colocados à minha frente, no dia em os escolhi para a confecção do meu vestido de noiva. Ouvi as gargalhadas estridentes e sonoras da minha amiga Carla quando escolhia os tecidos para a indumentária que usaria no dia do meu casamento. A minha amiga estava tão indecisa na cor da blusa que usaria com uma saia preta justa, que pedia opinião a todos e nem o meu pai escapou, recordando até hoje esse episódio.
Senti, em frente desta loja que já não existe, nostalgia e tristeza, por com ela ter desaparecido um bocadinho do colorido da baixa de Coimbra.
Ondina Freixo