A arranca das batatas era de todas as tarefas agrícolas aquela em que a criançada mais se divertia. Esta atividade exigia muita mão de obra e como o meu avô dizia: o trabalho do menino é pouco mas quem não o aproveita é louco.
Os homens e as mulheres mais robustas arrancavam as batatas com as enxadas e deitavam-nas para trás formando vários carreiros. Cabia às restantes mulheres e à pequenada apanhar as batatas para as cestas de silva e depois colocá-las nas sacas de sarapilheira. Aqui tinha que haver muito cuidado na escolha. Primeiro apanhavam-se as batatas de semente, que seriam utilizadas pelos próprios no ano seguinte ou vendidas a quem não as produzia. Depois escolhiam-se as batatas de consumo que eram para gasto de casa e finalmente o refugo. O refugo era formado pelas batatas rachadas, pelas mais pequenas e pelas defeituosas. Era aqui que entrava a criançada. De pé descalço na terra macia acabada de cavar lá andávamos nós a ajudar os adultos e a aprendermos que sem trabalho nada se consegue.
Na arranca das batatas cada um sabia exatamente o que lhe competia fazer e se por qualquer motivo alguém se atrasava na tarefa, outros vinham dar uma mãozinha. Aqui era um por todos e todos por um num trabalho de equipa em que o sucesso de um era o sucesso de todos.