Hoje entendo melhor o sucesso do Toy, do Tony Carreira e de tantos outros que levam a língua portuguesa e a música por essa Europa fora.
Não discuto se boa ou má música, se a língua portuguesa ganha muito ou pouco com esta divulgação. O que interessa aqui deslindar é o porquê de um português ficar completamente cilindrado quando se vê num país estrangeiro diante de algo que tenha a ver com Portugal. Acontece-me isto sempre que viajo!
Há anos na Lituânia, mais precisamente na capital – Vilnius fomos visitar uma zona que forma uma espécie de enclave dentro da cidade e que é conhecida pela República dos Artistas. Esta Zona encravada entre duas pontes sobre o mesmo rio, o rio Neris, com uma vegetação luxuriante, tem um estatuto próprio, inclusivamente, um presidente e um primeiro ministro, assim como uma constituição, com leis muito sui generis , como por exemplo : Os gatos não são obrigados a gostar dos humanos. Os artistas dão azo à sua imaginação, e uma dos aspectos que mais me impressionou foram estátuas feitas com pedrinhas do rio que a qualquer momento podem ser destruídas pela correnteza do rio. Fabulosas, também porque são efémeras!
Depois de tirar fotografias a tudo e mais alguma coisa, estávamos já de saída quando deparamos com uma espécie de loja de souvenirs. Entramos, e na verdade na loja para além de uns crachás, uns posters de diferentes artistas, e um mostruário com algumas peças de roupa muito artística, pouco mais tinha que chamasse a atenção. Mas eis que de repente, descubro numa vitrina um CD, que me fez parar e confirmar se era mesmo aquilo que eu estava a ver. Não queria acreditar que na Lituânia numa lojinha de artistas estava um CD, com um Barco Rabelo na capa e cujo titulo era : Barco do Vinho. Pedi para o tirar e sem perceber ainda o que se estava a passar virei-me para a minha amiga, completamente atordoada e soltei um sonoro e estridente: Isto é português!!
Era português e alemão, como nos explicou a menina que estava ao balcão. Um dos grupos, o Sangre Cavallum era constituído por portugueses e o outro, Allerseelen era alemão. Abri o Cd e lá dento estava em português uma das letras que faz referência ao vinho do Porto, desde a sua origem, até ao envelhecimento nos cascos de madeira, terminando com os versos: Para que renasça gargantas adentro, Florescendo como uvas de sangue. Peguei neste objecto como se ali estivesse concentrada toda a alma de Portugal, como se ao tocar-lhe estivesse a tocar um pouco do meu país, e claro que não resisti.
O que ali estava em questão, não era a música, não era a letra, era o objecto que levava a alma portuguesa para um cantinho de um país que uma grande maioria dos Portugueses nem sequer sabe que existe! Mas a alma portuguesa estava lá! A alma de um povo para quem cantar e divulgar as tradições da sua terra é uma forma de manter Portugal no coração e ao mesmo tempo abri-lo ao mundo.
Agora percebo porque existem tantos cantores que vendem milhares de discos por esse mundo fora, porque o que eles estão a vender é o cordão umbilical, a ligação, a este país que nenhum de nós quer perder!
Agora percebo a euforia, a quase loucura que todos temos quando os nossos jogadores entram em campo, ali aqueles onze homens representam os milhões de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo!
Ondina Freixo