As opiniões, como as razões e as emoções têm um substrato também ideológico onde a acracia não existe e, consequentemente, grande parte das vozes, reduzem-se e limitam-se a uma básica dualidade entre o sim e o não, o bom e o mau, o gosto e o detesto, o amo e o odeio.
Por isso, ou também talvez por isso, dividem-se as opiniões quanto aos gastos da edilidade viseense com a Volta a Portugal em bicicleta.
400.000,00 € é muito dinheiro… e contudo há algum retorno em visibilidade do território. O que não é, de todo despiciendo. Porém, o que nunca tem justificação é utilizar-se esse propagandístico meio para auto-promoção político-pessoal à custa dos dinheiros públicos – mais ou menos 4,1€ por viseense – e usar muitos meios para camuflar as despesas com o(s) acto(s), nem no portal base do governo lobrigáveis.
Não se está, de modo maniqueísta, nessa dualidade essencial, a perspectivar o acto como bom ou mau. Está-se a criticar esta perdulária forma de usar o erário, está-se a pôr em causa o conjecturalmente verdadeiro objectivo do autarca – “Eu ou Viseu” – está-se a questionar esta blindagem sistemática das contas públicas, dos gastos, dos contratos, das despesas que aparecem embrulhadas em vários celofanes opacos, até se diluírem num nagalho denso sem ponta à vista.
Agora, aferir se eu ou o leitor gostamos ou não de ciclismo, é meramente supérfluo; radicalizar a opinião em torno do “amar” ou não Viseu é absolutamente ridículo – gosta mais quem mais festas faz? – os afectos são tão individualmente subjectivos…; fulanizar de modo simplista uma questão colectiva com ramificações várias a um redutor acto de política partidária, é nítida miopia de quem não quer ver – pior que o cego – é acriticismo e acefalia de três ao vintém.
Quase meio milhão de euros – ou até mais, com todas as actividades e despesas conexas do antes, durante e depois – é dinheiro a mais, na minha pessoal óptica, ademais desbaratado num território cheio de problemas sócio-profissionais graves, como o desemprego elevado, principalmente na camada mais jovem, excesso de emigração por ausência de perspectivas profissionais locais, pobreza, deficientes condições de vida dos idosos, problemas de perda recorrente de serviços, de Saúde incluídos, comércios encerrados, pequenas e médias indústrias insolventes, degradação do parque habitacional do núcleo urbano, etc.
Ou seja, a austeridade imposta pelo governo de Coelho/Portas, durante quatro longos anos a exigir inúmeros sacrifícios aos portugueses mais carenciados – os mais ricos ficaram muito mais ricos! – não rima com este esbanjamento populista, nem é coerente com uma visão socialmente ajustada, tão pouco com a politiquice foleira do holofote, pessoalmente centrada na avidez de protagonismo que ressumbra da grande maioria dos actos destes deslumbrados protagonistas.