"…vamos tomar posições bastante duras dentro do Partido Socialista, mas não nos restringiremos a Viseu", afirma Joaquim Santos do PS Tondela em entrevista exclusiva ao Rua Direita

Há polémica no ar… Gonçalo Ginestal nomeado politicamente director do Centro de Emprego Dão-Lafões, para estranheza de muita gente. O RD ouviu Joaquim Santos, presidente da Comissão Política do PS Tondela   O Centro de Emprego Dão Lafões exerce a sua actividade sobre os concelhos de Carregal do Sal, Castro Daire, Mortágua, Santa Comba Dão, […]

  • 13:19 | Domingo, 21 de Fevereiro de 2016
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Há polémica no ar… Gonçalo Ginestal nomeado politicamente director do Centro de Emprego Dão-Lafões, para estranheza de muita gente.
O RD ouviu Joaquim Santos, presidente da Comissão Política do PS Tondela
 
O Centro de Emprego Dão Lafões exerce a sua actividade sobre os concelhos de Carregal do Sal, Castro Daire, Mortágua, Santa Comba Dão, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul, Tondela e Vouzela.
O nomeado, residente em Viseu, Gonçalo Ginestal, é irmão de Miguel Ginestal, o vice de António Borges na Federação de Viseu, tendo até aqui desempenhado funções como director da Escola Profissional Mariana Seixas, do investigado grupo Calvet de Magalhães, que já devia ter mudado há mais de um ano para o centro histórico de Viseu, conforme oportunamente divulgado por Almeida Henriques, o autarca viseense, campeão de “inconseguimentos”.
Esta nomeação do irmão de Miguel Ginestal, actualmente director na indústria farmacêutica, se não causou grandes surpresas pelo relacionamente familiar e um “modus faciendi” que já tem o cunho da “casa”, gerou bastante perplexidade e indignação na estrutura do PS Tondela, que está disposta a fazer uma condigna recepção, na próxima 2ª feira, às 09H00 ao nomeado director, à entrada da instituição, com a comunicação social presente, ou até, e perante os factos, a apresentar a sua demissão em bloco.
O RD ouviu Joaquim Santos, presidente da concelhia do PS de Tondela, militante e autarca bem conhecido pela sua frontalidade e integridade…
 
RD: Como é que vê esta nomeação? É uma nomeação política?
JS: Obviamente que é uma nomeação política. Oficialmente os nomeados são escolhidos pelo director do Centro de Emprego de Coimbra, o IEFP de Coimbra, sendo o director do IEFP de Coimbra nomeado pelo IEFP nacional, ou directamente pelo ministério da tutela.
RD: Se isto é uma nomeação política pode responder-me para dilucidarmos a relação: o Miguel Ginestal, irmão do nomeado, ainda está activo na política?
JS: Não. Acho que o Miguel Ginestal tem um alto cargo numa instituição ligada à indústria farmacêutica, certamente melhor que lugar de ministro, mas isso é um lugar privado e não há mais que dizer.
RD: António Borges, o actual líder da Federação, diz que “não tem conhecimento desta nomeação”…
JS: Se ele tem ou não, eu não sei. Mas o que é certo é que ele falou comigo há precisamente um mês, no dia 18 ou 19 de Janeiro, precisamente por causa desta situação da direcção do Centro de Emprego de Tondela.
RD: E já com estes contornos?
JS: Não. Ele perguntou-me, sem qualquer compromisso, pois isso não dependeria dele, mas sim do IEFP, que é um organismo muito fechado, muito corporativo, qual a minha opinião acerca das pessoas que poderíamos indicar pela Comissão Política Concelhia de Tondela para a direcção do Centro de Emprego. Seriam três lugares
RD: E tinham três pessoas com o perfil requerido?
JS: É um director, um adjunto e um vogal. O director é o que vai ser nomeado (Gonçalo Ginestal), a adjunta é de S. Pedro de Sul e o terceiro elemento é o que está e se mantém. Já tentei saber mas… toda a gente diz que não sabe de nada acerca de quem são. E ao presidente António Borges eu tinha-lhe feito saber que, de acordo com as condições que ele me pôs e acerca de um determinado perfil exigido e dentro do próprio Centro de Emprego, tinham que ser funcionários do próprio Centro de Emprego, o que não se verificou… Mas foram as condições que ele me pôs, e eu, mediante isso disse-lhe que conhecia algumas pessoas do Centro de Emprego, por motivos até da minha vida profissional e também como autarca e sei que há aqui gente muito competente, independentemente de serem ou não militantes do Partido Socialista, o que não me interessa. Tenho à minha frente um email para o António Borges onde lhe digo qual é a minha opinião acerca das nomeações que podiam ser feitas aqui… e digo-lhe mais: o que está em causa aqui nem é ser uma pessoa de Viseu, mas ser uma pessoa escolhida às escondidas e nas costas da Comissão Política Concelhia. Eu até tinha sugerido que fosse uma pessoa de Viseu, mas que trabalha no Centro de Emprego de Tondela e posso-lhe também dizer que essa pessoa não é militante do PS, tendo referido mais dois ou três nomes. Até lhe posso ler uma frase deste email: “Não havendo da minha parte nenhum interesse a não ser o de colocar gente de confiança política, mas acima de tudo competente, o Secretariado do PS Tondela entende que…” e continua, terminando assim: “só espero que não seja gente de fora (da Direcção Regional) a impor por confiança política alguém que não desejamos…”
RD: Mas e pelos vistos, foi o que se verificou…
JS: Pelos vistos foi o que aconteceu. Não é que nós aqui em Tondela (membros do Secretariado) com quem eu já tive o cuidado de falar mal soube disto, sendo a nossa opinião unânime, nós não temos nada contra o Gonçalo Ginestal, que é um camarada nosso, do PS, e se é competente ou não o tempo o dirá, agora nós não podemos é estar de acordo com a forma como o processo decorreu.
RD: No fundo, fizeram de contas que vos ouviram?
JS: Fizeram de contas que nos ouviram. Depois de eu ter enviado este email ao António Borges ele ligou-me a dizer que estava muito complicado e nunca mais voltámos a falar sobre o assunto, até que ontem (6ª feira), durante o dia, ouvi as notícias confirmadas e alguém me ligou a confirmar que o actual director do Centro de Emprego de Tondela iria hoje despedir-se do seu cargo. Eu aguardei serenamente e mandei uma mensagem para o António Borges a perguntar o que se passava, à qual ele não respondeu, até que à noite recebi algumas chamadas, de pessoas diferentes, a confirmar-me qual era o nome do nomeado. Mandei novamente uma mensagem ao António Borges a perguntar se ele sabia alguma coisa acerca disto e a questionar qual era a posição dele, à qual também não me respondeu, fazendo-o mais tarde e a dizer que “nós tínhamos que falar sobre este assunto”. Ligou-me hoje de manhã, creio que de Vila Real, das Jornadas Parlamentares e eu disse-lhe que não iríamos ficar calados perante esta situação, assim como toda a gente aqui em Tondela, perante esta frustração e que até estaríamos dispostos a fazer uma recepção, na 2ª feira, às 09H00 à porta do Centro de Emprego de Tondela, com a comunicação social presente. Posso adiantar-lhe que durante este fim-de-semana reuniremos o Secretariado para ponderar o que vamos fazer, mas há uma coisa que é certa, pelo menos vamos tomar posições bastante duras dentro do Partido Socialista, mas não nos restringiremos a Viseu. Não sei até que ponto António Borges sabia ou não deste processo, aliás li também uma notícia hoje publicado no “Dão e Demo” onde se refere que estiveram três nomes em cima da mesa da Federação de Viseu para escolherem. Ora bem, isto não bate certo com nada, é estranho e já fiz questão de mandar um email ao António Borges, pedindo-lhe justificações, inclusive enviando-lhe o link dessa notícia.
RD: Um comportamento destes era expectável de outro partido político para com o PS e não do PS para com o PS…
JS: É o que eu costumo dizer… Eu sou militante do Partido Socialista há 41 anos e nunca me preocupei com nada para mim. Sou um republicano. Embora esteja à frente da minha Concelhia há relativamente pouco tempo, três anos ou quatro, embora já tivesse sido autarca muitos anos, eu sempre critiquei esse espírito nos outros e obviamente que serei sempre uma boca de discordância, dentro do meu partido que não tem medo de dizer o que pensa e o que lhe vai na alma e condenar veementemente todas as situações que nos assemelhem aos outros, porque isso são situações que poderia esperar dos outros, mas não esperava do PS. Penso que apesar de todos os defeitos que os partidos têm, nesse aspecto, de preterirem a competência à ganância do poder, que os outros partidos aqui de Tondela têm respeitado mais as pessoas de cá e têm mostrado mais solidariedade dentro do Concelho que o Partido Socialista. E o meu Concelho é o 2º maior em população do distrito de Viseu e foi o 3º contribuinte líquido nas últimas eleições legislativas, para os votos que o PS teve no distrito e onde se verificou a maior subida, muito superior à que assistimos no partido, em Viseu.
RD: Então, para todos os efeitos, isto foi uma profunda desconsideração?
JS: As pessoas já não sabem a diferença entre consideração e aquilo que são os seus interesses. Quando eles agem assim eu já não sei o que lhe hei-de chamar. Já não arranjo um adjectivo que transmita aquilo que realmente se passa. Suponho que apesar de Tondela ser um Concelho politicamente difícil e onde o PS nos últimos tempos tem feito um bom trabalho, nós não temos receios do partido no poder, aqui em Tondela, como também não os temos do próprio Partido Socialista em cuja estrutura distrital há quem, pelo contrário, tenha algum receio dos socialistas de Tondela. O que distingue os socialistas de Tondela é que, não existe neste momento nenhum membro da comissão política, nem do Secretariado, nem nenhum autarca de todo o Concelho de Tondela, que precise do PS para ter emprego e trabalho…
RD: Mas se me diz que eles têm esse respeito, será apenas por palavras, porque os actos mostram uma realidade diferente…
JS: Claro! Para mim o que conta são os actos, palavras leva-as o vento, sobretudo quando são palavras que quando estão a ser ditas não fazem qualquer sentido… e eu já digo isto há muitos anos… não acredito no Pai Natal e embora tenhamos denunciado isso, a comunicação social nem sempre está presente e alguma dela passa ao lado das coisas, embora já haja uma nova amplitude da própria comunicação social e isto é uma crítica construtiva, porque já perceberam que aqui em Tondela não se fala à toa, fala-se porque temos razão, tanto nesta concreta situação como noutras e temos vindo a denunciar situações preocupantes que qualquer cidadão devia denunciar assim tivesse conhecimento delas. Mas não o fazem, alguns por medo, outros por falta de coragem…
RD: Se bem me lembro, um dos lemas de António Borges era “união e proximidade”. Este tipo de atitudes insere-se nessa linha?
JS: Obviamente que não! Eu não estou a dizer, até prova em contrário, nem estou a acusar alguém de ter sido o responsável por este processo.
RD: Mas se não foi o responsável ainda é pior, pois aparenta não mandar nada… Foi ultrapassado?
JS: Não sei. Estou à espera que ele me responda a isso. Se há um membro que é o vice-presidente da Federação, Miguel Ginestal eu não acredito que o Miguel Ginestal, que é uma pessoa que eu respeito, não tivesse conhecimento do que se está a passar com o irmão dele… Isso faz toda a lógica, todo o sentido. Eu não acredito que não houvesse conhecimento. Pode até o presidente da Federação alegar não ter conhecimento mas tem que ter conhecimento do que se passa na Federação e, sobretudo, com o que se passa com o vice-presidente.
RD: A não ser que sejamos todos parvos…
JS: Exacto, a não ser que sejamos todos parvos. Eles podem pensá-lo, mas eu não consinto que façam de mim parvo.
 
Estas foram as palavras colhidas, esperamos agora ver o que se vai passar durante os próximos dias. Certo é que o Partido Socialista, ou por mão de António Borges ou por mão de Miguel Ginestal, ficaram, como vem sendo hábito, muito mal no retrato.
Quanto ao PS Tondela, sendo o último a saber, foi tratado pela Federação sem respeito, sem dignidade, sem ética e sem solidariedade política. O que é um precedente muito grave.
Amiguismo ou mérito, eis a questão. Responda quem sabe que, da nossa parte, perante atitudes destas só esperaríamos uma decisão: demissão imediata da actual Federação por comportamento por demais escabrosamente ambíguo.

Este é o PS da mudança? Ou nada mudou no PS?

 
(fotos DR)


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