Portugal na bicha
Ontem, o compadre Zacarias, ficou preocupadíssimo com as notícias na tv sobre a greve dos camionistas e foi a correr buscar o Datsun 1200 – com muita patine, de 1972, mas ainda cheio de garra – e não se lembrando que o tinha atestado há 11 meses, quando pegou nele para ir à inspecção, nem […]
Ontem, o compadre Zacarias, ficou preocupadíssimo com as notícias na tv sobre a greve dos camionistas e foi a correr buscar o Datsun 1200 – com muita patine, de 1972, mas ainda cheio de garra – e não se lembrando que o tinha atestado há 11 meses, quando pegou nele para ir à inspecção, nem olhou para o indicador de gasolina, tal era a aflição, e foi a voar para o posto de gasolina mais próximo.
Estavam lá quase todos os viseenses, velhos e novos, aposentados e no activo, numa bicha com mais de 2 quilómetros. Duas horas e meia mais tarde lá chegou à bomba das 98 octanas – o Datsun é um clássico como o dono, que não usa mariquices sem chumbo – meteu a mangueira com um suspiro de alívio e… logo de imediato, mal deu ao gatilho, golfou das entranhas mais de um litro do precioso líquido. Estranhando, tentou de novo e de novo mais meio litro refluiu. Com muito jeitinho, à terceira penetração percebeu que o depósito estava atestadíssimo.
Chamando-se desgraçado, foi à caixa, pagou o litro e meio vertido e voltou pesaroso ao lar, a remeter o Datsun à garagem. Podia ser pior!, lá congeminou para se arrimar, sempre poupou 48 euros… mas logo lhe ocorreu — se houver uma emergência, o Datsun está pronto a servir e intervir. Assim pensado, abriu o capot, desligou os pólos da bateria e cobriu a gloriosa máquina com a capa do costume, pronto para mais uma hibernação.
Talvez a ANTRAM (Associação Nacional dos Transportes Públicos Rodoviários) ande a brincar com o fogo.
Talvez o governo, a 30 dias das eleições europeias, ande a contar com a iluminada boa estrela de Belém.
Talvez o país não devesse estar à mercê de uma classe profissional compelida às últimas consequências pela insensatez do patronato.
Talvez…