Se eu fosse cidadão da polis, em dialecto exausto, começaria por vos escrever a narrativa de hoje explicando que esta nova palavra em moda pode ter diversos significados mas, fundamentalmente, quer dizer isto: história + discurso = narração. Ou, segundo Genette, “acto de relatar enunciados”, ainda como modo de uma tríade (lírica, narrativa, drama) ou, citando Labov, “um método de recapitulação da experiência passada que consiste em fazer corresponder a uma sequência de eventos (supostamente) reais uma sequência idêntica de proposições verbais”.
Será por isso que “eles” começam assim: “A narrativa de hoje…”
“A Via Sinuosa” é um maravilhoso romance do políptico semi-autobiográfico, publicado por AQUILINO em 1918. Dedica-o assim: “À memória de meu pai, Joaquim Francisco Ribeiro”, que aparece na “narrativa” como o Padre Ambrózio e o autor, no seu alter-ego semi-ficcionado, como Libório Barradas…
…Barradas como o toante sino da Igreja do Espírito Santo, no Carregal (onde AQUILINO viu vida) rodado ou roubado do convento de Caria ou Paço dos Bulários, hoje a Quinta do Ribeiro, ao cruzamento de S. Francisco, vindos de Soutosa e virando a oriente, levante ou leste.
Celidónia Violas a “amorinha” de Libório por ali perpassa sua rebelde índole… Estefânia Malafaia a sua sensualidade esfuziante, a fidalga de Santa Maria das Águias que reviravolteou a cabeça de Libório…
Bom, leiam a obra que só ganham com isso. Eu já a li meia dúzia de vezes e só dei azo ao dito latino: “bis placenta repetita”…
A semana passada fui a Alhais, à Igreja Matriz da Nª Sª da Corredoura, traço pesado e pouco inspirado do gaulês Granjeon, onde Aquilino foi registado.
Relata a lenda que ali se refugiou a princesa moura Ardinga para desposar D. Tedão (erradamente apodam-no de D. Tedo), cavaleiro cristão que lhe roubara o afecto e o sentido. Aí seu pai, o bárbaro emir de Lamego a matou por suas mãos…
AQUILINO é, ainda hoje, um guia fantástico…
Mas há que lê-lo… e depois das suas 72 “narrativas”, entre romances, contos, novelas, literatura infantil, história e literatura, biografia, hagiografia, tradução, teatro, ensaio, diário, monografia… vestir enfim a capa de pelica, arminho sobr’ombros e sem psitacismos ocos ser, então, de confiduciado capelo no bestunto, aquiliniano de impávida e genuína gema…