Na decorrida década de 2011/2021, a procura do lítio para as baterias dos automóveis eléctricos, dos painéis solares, das eólicas, dos telemóveis, dos computadores… cresceu desmesuradamente triplicando o preço deste metal.
Na berra estão hoje os automóveis eléctricos que serão também uma forma, nova, de revitalização de uma indústria em mudança. Mas serão os automóveis eléctricos a salvação do planeta? Temos algumas dúvidas, pois são também elementos poluidores, se bem que menos do que as viaturas térmicas. As viaturas eléctricas carecem de baterias feitas com metais, circuitos electrónicos, etc., apesar de serem no geral compostas de lítio. Este produto e a sua extração não deixa de colocar o problema da eco toxicidade, mas também problemas ambientais decorrentes das emissões de CO2 geradas pela extração. Ademais, com o exponencial crescimento do mercado, seja de automóveis eléctricos seja de telemóveis, et all, o planeta depressa esgotará os recursos de lítio existentes, virando-se já hoje os investigadores para a hipótese das baterias de cobalto e de níquel.
Para termos uma ideia do crescimento do consumo de lítio, em 2019 foi de 75 mil toneladas e em 2025 pode atingir números que vão das 170 às 215 mil toneladas, sendo a sua extração feita maioritariamente do subsolo e tendo a Austrália, hoje, como geradora de 55 das reservas planetárias, com as principais situadas na América do Sul, naquele que é denominado o “Triângulo do Lítio”: Chile, Argentina, Bolívia.
A Europa concentrará menos de 1% das reservas globais com filões significativos em Portugal, Espanha, França, Finlândia, Ucrânia e Sérvia.
No nosso país, instalou-se a polémica com as licenças de exploração de lítio concedidas pelo Ministério do Ambiente e, a pretexto do que se vê na América do Sul, começam a surgir movimentos de autóctones e de ambientalistas a contestar a destruição dos seus territórios e as consequências ainda não quantificáveis dessa exploração, com perfurações que podem ir até aos 4.000 metros de profundidade, não sendo também despiciendo ter-se em conta que para extrair uma tonelada de lítio são necessários dois milhões de litros de solução salina.
Acresce o impacto a médio e longo prazo criado pelo esgotamentodos lençóis freáticos e as consequências daí advenientes, com a erosão do terreno e as secas que ocasionarão, entre outras.
O impacto da extração do lítio, como desgaste colateral do meio ambiente não se localizará apenas nos pontos de extração, mas terá um alcance extraordinártio sobre todo o ecossistema, em geral. Se a isto acrescermos que os governos estão a actuar sem consultar as populações directamente afectadas e sem os exigidos estudos de impacto ambiental, temos em mãos um problema inquietante. E não será a promessa (ilusória?) de empregos feita pelas multinacionais que estão a levar a cabo estas explorações que colmatarão as previsíveis consequências, sendo certo que a resolução da crise climática pela mobilidade eléctrica criará muitos e novos problemas que ainda não estão claramente definidos nem acautelados. Poluição dos solos e destruição das reservas de água, são duas grandes preocupações, mas há muitas mais…
Alguns números avulso: uma bateria de automóvel eléctrico tem entre 3 a 5 quilos de lítio. Uma viatura eléctrica tem que percorrer entre 25 000 e 150 000 quilómetros até se tornar menos poluente que uma viatura movida a gasóleo ou a gasolina… fala-se já hoje nas baterias se sódio-íon em cuja composição não existem produtos químicos nem metais pesados e média de duração de vida de 10 anos (contra os 5 anos das outras baterias). E não será já esta pesquisa a resposta à falibilidade do lítio? Ou pelo menos à aceitação da sua vertente negativa?
Chegámos a um ponto que a lógica se dilui no preso por ter cão e preso por não ter. Ou de outra forma dito, na política do mal o menos, sendo certo que mesmo este gerará inevitavelmente as suas vítimas e os seus beneficiários, aqueles que farão biliões com o negócio…
(Fotos DR)