Comecei a manhã com uma digressão sobre a nossa prezada e credível blogosfera. Almeida Henriques guindou-se definitivamente a protagonista dos filmes de acção locais. Infelizmente, acção no sentido negativo da palavra e do acto, pois parece que o afã frenético do autarca em fazer obra que se veja é verdadeiramente inconsequente, festeiro, rapioqueiro e bailadeiro.
Além de uns psitacistas “propagandeiros” que abrem as goelas em anúncios do feito e do a fazer, mesmo que seja mal feito ou nunca venha a ser feito, assenta a sua política, maioritariamente e até hoje, num descrédito de palavras ocas e acção fútil e vã.
Hoje vai anunciar os ganhadores do 1º Orçamento Participativo da CMV. Terão sido 50 os projectos finais candidatos aos 75 mil euros, uma parte no campo da cultura e eventos.
Além disso, ouve-se que no âmbito da reabençoada Cultura surgiram ainda e noutro contexto 84 projectos no valor de 2,5 milhões de euros… para um montante disponível de 400 mil a serem criteriosamente seleccionados por um comité de sábios comanditado pela vereadora da Cultura do município, Odete Paiva.
Em boa e sínfona verdade, logo, à la mode AH, haverá recreativa solenidade na escadaria municipal, com o doge e sua corte rodeado de acólitos, filmes, autarcas de sucesso a contar suas experiências sensacionais, lusitanos fados, “comerete e beberete”. Comme d’habitude.
Quanto à fervilhante Cultura… 84 concorrentes com projectos culturais é prova de muita vitalidade e inesperada dinâmica. Ou será apenas a certeza de que há um novo nicho de negócio em que a Cultura, coitada…, usada e abusada, é o peditório para o qual a edilidade mais facilmente abre os cordões da bolsa rica — rica de herança e dos elevados impostos cobrados aos munícipes, of course! — para e no fundo centrar a sua actuação no até hoje e em geral habitual fogo-faralho de coisa nenhuma. Ou então, aproveitar os dinheiros comunitários para o bambúrrio do farró.
Haverá decerto uma mão cheia (tem cinco dedos) de agentes culturais com projectos importantes, inovadores, diferentes e capazes de contribuir com algo de palpável nesta área. E há os outros, aqueles que apanham o funicular do sobe-e-desce do desnorte trauliteiro de quem confunde Cultura com odes a Baco, bailaricos anos 60, piroaquadas, foguetórios, efémeras acções de rua, jantares em quintas de amigos, e muito parlatório na comunicação social amiga.
A oposição de Junqueiro e Hélder Amaral, de hissope empunhado o primeiro, o segundo a abanar o incensário pelas sacristias abençoam tal Cruzada. Os infiéis debandam…
E contudo, em breve vamos ter Viseu a ver passar os aviões. Dizem que vêm de Bragança e vão para Portimão e vice-versa. Pelo meio, aterram no aeródromo Gonçalves Lobato para carregar as centenas de empresários, homens de negócio políticos e veraneantes da região que vão a Lisboa tratar da vidinha ou ver o Cristo Rei. Dizem que o bilhete de ida custa 80€. Mas que o jet não aterra na Portela. Antes em Tires, aeródromo de Cascais. Sempre podem aproveitar para ir de táxi ou de autocarro almoçar ao Guincho e depois ir até Lisboa, ao Terreiro do Paço, saudar o Dom José, demorando na viagem terrestre o triplo do tempo gasto na trip aérea, voltando a Tires, talvez de táxi que é menos popularucho que a caminheta da carreira para apanhar o jet sky do pôr-do-sol para a santa terrinha, a Senhora da Beira.
A coisa não vai ser barata, pá… mas a vida são 2 dias e se o governo empatou 8 milhões de euros na façanha, todos os munícipes deveriam contribuir para este fly project, e ao menos, uma vez na vida, ousarem seu sonho de ir a Tires por via aérea. Em alternativa, os idosos que dantes iam à Malafaia passarão a ir a Fátima por este meio, criando-se para o efeito uma breve aterragem na pista local.
Isto, claro está, enquanto não chega a via rápida cheia de pórticos de cobragem coerciva até Coimbra ou a tal ligação ferroviária (está para Março?) que nos vai permitir ir de manhã dar um mergulho à Costa Nova e à tarde, comer umas tapas salerosas na movida feérica da Plaza Mayor salamantina.
Em suma, Almeida Henriques, perdido o tal estado de graça, com 16 meses de mandato, muito dinheiro estafado, muito bruáá no ar, excesso de parra e pouca uva, já conseguiu passar para todos os viseenses — e dando-lhe ainda a derradeira tolerância de um esticado benefício de dúvida — que Viseu é uma festa, uma mesa gigante onde os agamelados matam a sede e a fome, com um palco ao lado onde a banda de momento executa as ribaldeiras para o corridinho fox-trot da circunstância.
Viver Viseu, na sua essência e até agora, incoerentemente, sem uma linha condutora, à procura de um rumo e sem destino à vista, parece ser a única política implementada por este autarca. Quer tudo e vai ganhando mãos cheias de nada. Já trouxe o festival da guitarra clássica de Sernancelhe, há-de fazer o mesmo à festa da Castanha, já tentou a festa do Míscaro, do Sátão, não vai a Mangualde buscar a festa da Fêvera porque o João Azevedo podia zangar-se a sério, estando neste momento a tentar infligir uma derrota política ao seu correligionário de Tondela, José António Jesus, tirando-lhe a CIM para Viseu, para já… e com a fraterna anuência de José Morgado, o autarca socialista das Terras do Demo, das quais AH é devoto fã no CM (voltaremos a este tema). Barrelenses, cuidado com a feira do Fumeiro e o festival da Truta (ADDLAP à parte) !
(Foto DR CMV)